terça-feira, 20 de março de 2012

WELCOME HOME



Há dias em que não há nada.
Há dias em que o cão ladra da mesma maneira, o café sabe ao de sempre, a comida está bem de sal como em todos os outros dias, o futebol joga-se às 17:30 no ringue de Santa Luzia, o irmão chega às 19:00 a Novelas, breaking down continua em streaming no tubo, o portfólio está quase quase feito e a noite chega e as horas chegam e vêm e sente-se o vazio de chegarem e partirem e de novo dia esperar de manhã.
Há imensos destes dias, destas ocasiões, nas quais me retiro e me coloco de mochila, nos confins da América do Sul, ou em viagens intermináveis em comboios nocturnos por esse Vietname fora, ou por de entre multidões na Praça Vermelha.. sempre sempre, longe daqui, com saudade daqui, com saudade do de lá de fora, com o sangue a polvilhar as guelras, a respiração ofegante de quem corre uma maratona sem se levantar da cadeira de escritório, de quem escreve e escreve estando lá e estando cá, vendo aquilo olhando para isto, reflectindo sobre muita coisa ao mesmo tempo que agarra o punhado de todas as outras que diariamente possuí.
Fechando os olhos, vejo os banhos de mangueira no jardim, ou a piscina de plástico azul remendada com pensos, as idas à ameixoeira, as cuecas na cabeça e os power rangers, os offspring a tocarem na garagem, o ghostclub.

"1º Quero ser boa pessoa. 2º Quero ser bom aluno. 3º Quero uma Megadrive."

E depois há os raros, aqueles que em cinco minutos nos poem a par da impar situação que nos oferecem, seja a poeira do deserto ou as infurtunas selvas tropicais, o chão desaparece por debaixo e continuamos no mesmo sitio e em queda livre, a escrever a escrever, a perguntar por mais, como se um portal para outra dimensão tivesse aberto em nós o desconhecido e a vontade de o percorrer, ainda que sabendo, por experiências prévias, que esses primeiros passos serão fatalmente intoleráveis e amargos, arrepiantes sussurros nocturnos que teimam em ficar.
E nesses dias, que jogamos ao bingo, ou ao totoloto, ou às cruzinhas, e vamos enganando os sims e os nãos, vamos empurrando para a frente a decisão de mudar ou não a vida que temos. Para melhor, ou para pior. Para qualquer outra coisa, lembrando do quão estática e previsivel ela parecera no dia anterior, e no quão revoltados pareciamos estar quando a pensavamos assim, parada, paulatinamente esperando que o buraco dimensional se abrisse.

Hoje um desses portais abriu-se.
Bom ou mau?
Sei lá se é o chinês se é o caralho.

Radical Minds - Welcome Home

sexta-feira, 9 de março de 2012

INDUSTRIAL

Trespaçando as trespaçadas paredes travessas, aversas à confusão das rotinas, adversas raizes de mato a adornam. O tempo cobra o seu lugar, e o burburinho do nada corrompe a atitude passiva do betão amassado esbarrado contra o ferro da ferrugem.
Os pneus parecem rir-se pela segunda oportunidade dada, vivem impávidos e serenos, perenes esculturas de borracha mole e cheirosa, polvilhando aqui e ali os espaços do vazio instalado.
É amorosa a fugaz relação entre o que fica e o que vai, entre o estalado e o partido, e, quase que inerente a tudo isto, um sorriso decadente e suave encaixa entre as marcas de óleo escuro e queimado deixado para trás.








UM PASSO ATRÁS


A cancela custa a abrir, o cão feito Lobo cisma em se debruçar sobre a mesma, dificultando a tarefa já de si pouco fácil. O cabo é desenrolado. Trespassando a rede vai galgando os paralelos, perpendicularmente à vedação, e, alimentando-se da energia do vizinho, a sala de ensaio ganha luz. Uma luz mortiça, pálida razão que se arrasta pelas paredes apinhadas de objectos das memórias que por lá jazem, desfila por de entre motores e cambotas e bielas e ferramentas e bidões. A caixa insere-se nesse lugar longe das luzes e das gentes, onde não há noite nem dia e se exorcizam os fantasmas. E por ali em diante desfilam outras recordações, frustrações e estórias, reproduzidas para os outros para que os outros lá encontrem os seus próprios reflexos sobre o efeito de sons e palavras.
Step(ping)Back! à realidade.
Bem-vindos ao Núcleo Duro, à ínfima parcela da soma de todas as outras.
É tudo servido cru, mas sentido.


STEPBACK! – All the things
(…)
This world is too small
Too short, just a passage to what we aren´t sure of
So raise your things
choose your motif,
keep your friends
and live your story

stay true
to what you are
keep your wise words
to those who try

ALL THE THINGS!
COLD MIND, HEART IN PLACE!