Já estava deitado, janela entreaberta, irrequieto, pulso a mil, a mirar o escuro. Completamente estourado, com a vontade de perguntar e conversar que a noite trás consigo. Headphones na mesinha de cabeceira, estrategicamente colocados para situações como esta. Tinha sacado umas malhas uma a uma e as colocado numa pasta chamada JESSE, no mp3 do celular. Acendeu-se uma luz lá no vazio, percorri a biblioteca num ofegante silêncio até encontrar o directório que procurava. Ia seguindo ligeirinho musica a musica, vendo o desfile de ensaios na garagem do Telmo, o gig das listas na escola secundária, o auditório do CCC, o carregar e descarregar de material, de sala em sala, mala em mala, a ibanez laranja, os pedais avulsos, as discussões sobre o cedric e o omar e o jim e o tony e o paul e todos os serões daquele verão, o último antes dos compromissos diversos, a ver videos de todos concertos que um dia gostávamos de ter dado.
O impulso ergueu-me do colchão, abri o portátil, liguei os phones de novo, procurei o acampamento de Jessica e o play. Comecei a bater teclas na tela branca e veio-me à memória que faz hoje um ano e pouco, seguia no comboio para Contumil, com as mesmas malhas cruas, sem tratamento, gravadas no cubo, puras, sem maquilhagem, só com flow, esgalhanço atrás de esgalhanço, e lá ia cantarolando a minha demo favorita de todos os tempos. Durante este ano e tal, fui rolando a cassete até a fita se espalhar por todos os nervos do sistema, vezes sem conta, sem o nexo do chão por de baixo dos pés, sem o cabimento do demasiado premeditado até que Jesse de novo renasceu.
Em cada segundo vejo os mesmos, tarolada acima e abaixo, em coros intermináveis vindos lá do fundo da inquietude de Santa da Luzia.
E agora, a conversa está agradável, a comida estava boa e o vinho no ponto, mas vou ter de abandonar, com olho aberto e outro fechado, uma dor de cabeça do inferno, com os óculos tortos e turvos das dedadas, ouvidos sangrados e faqueiro arreganhado.
Saquem, passem, roubem, ofereçam, gravem em disquetes compactdisks minidiscks cassetes dats zips pens, ou escrevam tudo em papeizinhos aos milhares pelo ar, por todo lado, até que toda a gente se canse de vos ouvir e de ouvir falar dizer e espernear e esmagar a cabaça as vezes que forem necessárias para nada.
REACHING BEYOND THE STARS,
across the everything!
glance
to the other side of forever...
across the everything!
glance
to the other side of forever...