quarta-feira, 9 de novembro de 2011

FAKE PLASTIC TREES

Há coisas que quero fazer quando for grande.
Quando for grande, espero ser grande o suficiente para pensar que um dia já fui mais pequeno. E no meio desse pensamento, ainda ter tempo para ser pequeno, ter tempo para não me levar a sério, ter tempo para respirar fundo.
Gostava mesmo, de quando fosse grande, poder dar-me ao luxo de fazer o que gosto. Mas ainda gostava mais, se o pudesse fazer sem que o sentisse em vão, mal interpretado ou subvalorizado. E bem bem, era ganhar uns trocos com isso, suficientes para fazer o que gostasse. No meio de tudo, concerteza teria de me orientar num segundo trabalho, um outro part-time para me ajudar nessa demanda de fazer o que gosto, porque fazer-se o que se gosta, não é para todos ou qualquer um, é tão díficil como encontrar uma cerveja que está naquele ponto que nem muito gelada nem muito coiso, ou um arroz de cabidela com sangue no ponto, ou mesmo uma miúda que nos sabe ouvir sem falar primeiro.
Mas ainda não sou grande, porque isso de ser-se grande e morar independente é coisa que ainda demora mais dez anos. Alias, creio que é essa a razão pela qual supostamente, se um cancaro ou um avc no entretanto não nos matar, vivemos em média mais dez anos, colmatando assim a nossa fase pré-adulta de descoberta da profissão e do curso que dedicadamente seguimos durante os já corridos anos, que inocentemente guardamos com orgulho sob cruz por entre quatro linhas que formam um dos muitos quadrados ( dependendo do grau de insatisfação/motivação/ambição de cada qual) da lista "coisas a fazer antes de bater a caçoleta".
Talvez, quando for grande, por de entre a floresta de árvores de plástico, que um dia julgara verdes e fortes e vivas como as vivas e fortes e verdes que estão no meu quintal, vislumbre essa paz interior de saber o que se pretende que se faça no meio da anarquia das palavras sem significado, das posturas sem sentido e das situações amarelas do saber-se rigorosamente nada sobre se se avança ou se trava a fundo, tal e qual o amarelo do semáforo e o rápido olhar que trespassa espelhos e retrovisor em busca do homem de azul, qual resposta para o problema, qual "all seeing eye".
Quando for grande, vou-me esforçar ao máximo para me lembrar, que uma vez, não faz muito tempo, feliz estive eu com quatro paredes e um vazio lá fora, num espaço confinado ao espaço, sideral e transversal, sem paralela que se encontra no infinito, apenas encontrando paralelo nesse vazio que nos envolve no momento em que o pouco vale tanto, na escassa luz que como faróis vai guiando aqui e ali, e eu ali sentado, na cadeira de madeira, a olhar para as paredes como se nada mais restasse, apenas aqueles míseros metros cúbicos, míseros se os compararmos ao infinito do espaço pensado, mas que aqui entre nós, valerá tanto e serão tão grandes quanto aquilo que assim pretendermos, pois que se saiba, até então, ainda não nos descobriram forma de bloquear o exagero, melhor dizendo, cortar a destreza de poder fazer coisa nenhuma, coisa equiparável a algo tão grande como o próprio universo que o próprio Deus em pessoa se deu ao trabalho de criar.
Pois, mas como ainda falta bastante para ser grande, e como eu quando for grande quero ser lixeiro ou cameraman, entretanto vou pegar na Bmx do Júnior, que era dele quando ele era mesmo pequenino, e não era minha quando era eu ainda mais pequenino, e vou dar umas voltas pelo bairro a bater com os joelhos no guiador, a sacar piascas e a borrar as calças com óleo.
Isto de ser de oitenta e oito, nos dias que correm, é uma sorte, é que há dez anos atrás e nascido em setenta e sete, já era grande de certeza!
Invictus
Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Kyuss - Demon Cleaner

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