terça-feira, 27 de abril de 2010
TINTIN AU TIBET
Cheguei ao nepal depois de vinte e quatro horas de comboio, jeep manhoso e mini-bus com outros tantos artistas da bola que vieram para missoes bem mais hardcore que a minha como passeatas no campo ate' aos quatro mil e tal metros durante dez dias. Eu vim pra paisagem, respirar ar fresco depois de uma cidade tao intensa e pesada como Varanasi.
Varanasi e uma cidade onde ate o ar custa a entrar nos pulmoes, as pessoas andam todas pedradas, em busca dos deuses todos que largaram o pais a milhares de anos. Se Saramago diz que deus trabalhou seis dias e depois tirou ferias ate hoje, acho que estes trabalharam bem no enredo e depois cagaram de alto, literalmente. Ali tudo era estranho, estranhamente envolvente e surreal, cheio de animais, gente a dormir o dia todo nas ruas, quase todos a chutarem para a veia "o remedio divino", uma maneira bem leviana de ver a droga, com os templos cheios de junkies e com o ponto alto nos corpos queimados a' beira rio a uns miseros metros dos banhistas. Higiene pessoal nunca fez tao sentido quando se escovam dentes com os dedos dos outros, purificados pelo fogo divino e pelo tao ansiado nirvana alcancado em Banaras. Acho que nem o Kurt Cobain se lembrou desta se nao teria dito 'a Courtney que em vez de um balazio nos cornos o caminho seria uma bela queimada na India.
Para tras no meio disto tudo ficam as praias de Goa e a cidade dos morto-vivos...
Precisava de mais de uma hora aqui na internete mas so consigo ter tempo de responder a e-mails para familia e pouco mais, a rede e' cara e os teclados sao duros de martelar.
Do Nepal, mais concretamente das silhuetas negras que vi de montanhas e estradas interminaveis, estradas que nao tem buracos mas sim buracos que tem estradas e que sao feitas a oitenta ou noventa kmh sempre a bulir como se nao houvesse amanha, e pouco faltou para nao haver amanha, fosse estampado tipo sticker num TATA ou pela ribanceira abaixo sem pinheiros para matar e com muita silva e vegetacao alta e baixa para contar ate' mais proximo curso de agua por onde passamos.
Hoje remei no lago de Pokhara, comi um magnifico mixed fried rice que ate bocadinhos pequeninos de bife tinha e arranjei o bilhete para o parque natural algures por aqui que daqui a dias vou ver.
Amanha as cinco da manha comeco uma mini caminhada, para morcoes, pussys, amadores, rookies, chamem-lhe o que quiserem, mas nao tenho tempo, e quero ir ate kathmandu ver se encontro alguem que ja perdi pela viagem milhares de vezes e que a proximidade do regresso me teima em confrontar.
ser'a caso para dizer que ja ouco os escorpioes a sussurrarem ao meu ouvido.
Scorpions - Winds of Change
sábado, 24 de abril de 2010
GRANDOLA
Hoje, na cidade dos mortos, dos vivos que esperam pela morte, dos mortos-vivos de heroina e cocaina ejectada como reme'dio apaziguador e ligacao divina a Shiva, Ganesh ou Brahma, onde os corpos sao queimados e lancados ao rio onde os miudos nadam e tomam banho, lembrei-me de uma revolucao dos cravos que se celebra amanha, dis vinte cinco de abril, como o do estadio de la' da minha terra onde muitas vezes vi o meu clube a ganhar e a perder, as vezes (nao poucas) empatar, disse palavroes com o meu pai ao lado e ate o vi a' bofetada por motivos que nem lhe diziam respeito.
Sim, abri o youtube, deixei carregar a musica, ouvi o marchar e deixei-me levar pela letra. Um dos espanhois que esteve em Ahmedabad comigo, o Jaime, sabia a musica de cor, ja a tinhamos cantado, ja tinha achado piada ele saber uma musica como aquelas. Tinha a barba por fazer, gostava de ser comunista disse-me ele um dia, mas nao o era. As tantas anda enganado.
Volto ao tema, a' revolucao, aos cravos, ao dia vinte e cinco daquele Abril. Nao o vivi, nao vou falar do que nao vi, falo do que sinto por saber que hoje o pais e' livre, nao de muitos preconceitos e males, ou de muitas doencas mentais e de epoca, mas melhor assim, que axfixiado, que preso a um Deus, a' Patria e a' Familia. Acho que as geracoes perdidas que dai se seguiram, a que passou na heroina, a minha nas incertezas de um futuro letrado mas atras de um emprego para o qual nao nos qualificamos, ou mesmo as mais recentes que se tornaram mais virtuais e digitais que o proprio Kubrik com a odisseia no espaco, talvez ainda nao consigam compreender, tal como eu nunca hei de conseguir, o peso da opressao, o peso do controle, do cctv politico e da censura.
Gostava de poder ver agora a foto do meu avo a apoiar o Humberto Delgado na sua visita a Penafiel, pela qual lhe passaram demasiados desgostos.
Zeca Afonso . Grandola Vila Morena
sexta-feira, 23 de abril de 2010
SLUMDOLLAR
sábado, 17 de abril de 2010
BOMBAIM!
Depois de viajar num caixote de chapa por umas doze horas, vindo das grutas budistas de AJANTA ( tambem la jantei um chicken biryani ), fiz duzentos metros num taxi manhoso at'e ao hotel YMCA, tomei um pequeno-almoco / almoco num cafe ocidental chamado MUNDEGAR, com uma omelete a' portuguesa, uma pasta italiana, uma soda americana, com os holandas a tomarem um vinho tinto frances fresco, e enquanto tudo isto se passava, rolava na jukebox Texas style uma banda britanica de seu nome RADIOHEAD, musica NO SURPRISES. Sera'?
Nos Portugueses, comecamos isto tudo.
BOM
BAIM!
quarta-feira, 14 de abril de 2010
THE BEGINNING OF ALL THINGS TO END
Intro de KYI.
Este titulo seria apropriado para um qualquer trabalho de oficina de artes de decimo primeiro ano, com o purehatred e o mudvayneboy a colarem maxes cavaleras e coreys numa tela vertical, eu entretido com o Bush de moustache alemao e o pinto com a fome em Africa. Belos tempos, mesmo antes antecedidos pelo Valdemar, o "Banal", personagem que vivera' sempre na minha memoria, com a grande frase " podes-te tar a cagar para isto tudo, mas quando precisar que estejas a dar o litro tens de corresponder". Parece-me uma grande licao de vida, porque nao temos de estar sempre atentos ou sempre na terra ou sempre sentados a frente do ecra a carregar em teclas ou a dizer que sim e que nao ou a tirar missa de corpo presente num qualquer cubiculo de escritorio. Acho que o Valdemar vivia no Portugal a pensar que estava na India. So' Ganesh sabe.
Hoje e' o dia, chegou a hora, ja lavei a roupa toda, no tanque la de casa, com sabao azul a' porto, com ganas de limpar o possivel mas deixar as marcas desta India constantemente suja, e ja ta tudo seco, empacotado, empacotados tambems alguns quilos de roupa que nao devia ter vindo e que agora nao me compensa levar ate' ao fim, parece que ha coisas que se vao deixando e outras enviam-se pelo correio. Ja tenho as costas benzidas, nao fiz nenhum mal jeito desde que ca estou, parece-me que esta me vai aguentar ate' aos himalaias, e se nao aguentar, sais de frutos e cha', dieta rigorosa e a caravana continua.
Custa dizer o adeus, mas custava mais se nao o dissesse, e no final serem tudo numeros de telemovel e enderecos eletronicos e codigos postais indiferentes e meramente aleatorios, ditados pela vontade de alguns de verem o taj mahal, de outros de comerem chicken butter masala, de outros de enviarem postais para a familia e marcarem o passaporte, e de alguns, poucos, de mergulharem num mundo ao contrario, onde ate as leis da fisica parecem nao colar com frequencia.
Sem mais nada a crescentar a esta chamada de valor acrescentado, parto sem telemovel porque ate sem ele fiquei, t shirt colada a's costas com os quarenta e cinco la' de fora, estomago ainda vazio que penso preencher em alguns minutos, com saquinho as costas e o emepetres carregado de cantigas de amor e de raiva, e tambem outras de chillout tambem para a odisseia dos himalaias, com passagem pelas praias portuguesas de GOA, a caotica BOMBAIM e a mistica VARANASI.
Ate' 'as uvas!
SOULFLY - BACK TO THE PRIMITIVE
segunda-feira, 12 de abril de 2010
LOST AT SEA
sexta-feira, 9 de abril de 2010
ROBOT ORCHESTRA
quinta-feira, 8 de abril de 2010
NO CABO DO MUNDO
quarta-feira, 7 de abril de 2010
LOPSIDED
terça-feira, 6 de abril de 2010
OUR REALM OUR HOME
Aqui comem-se tostas ao pequeno almoco, leite em pacote de plastico, sem tomate nem azeite mas com cafe' de cafeteira meta'lica oldschool, canelas style. Ha animais de todo lado, de varios pontos da Europa, gado que pasta no jardim, ratos e as baratas sao as nossas melhores amigas.
A agua funciona de vez em quando, e quando nao funciona liga-se o motor, espera-se um bocado, desliga-se outra vez e toma-se um belo banho de agua fria porque o esquentador para alem de desnecessario tambem raras vezes funciona. O ralo tambem nunca funcionou bem, entope sempre e o banho podia ser de imersao. As camas nao sao de casal, seriam mais de indiano, com setenta centimetros de largura e colchao de tres centimetros de espessura, mais a rede mosquiteira e a ventoinha do tecto que me parece mais o efeito psicologico de ver o ar a girar pelo quarto fora.
A televisao que tinhamos foi roubada, tambem so dava um canal e com chuva, coisa rara neste pais e que ainda so presenciei uma vez, tirando as poucas que vi no ecra do caixote que costumava estar na sala. So reparei que tinha ganho novo dono quando me lembrei que estava a tentar marcar golo com a bola de cricket no vazio que estava antes ocupado pela T-ve.
No jardim ha um baloico, lembra-me penafiel, mas este tem mais ferrugem ainda, e faz mais barulho, e nao tem grande piada porque tenho enjoado das ultimas vezes que me sento la' a olhar para a rua.
La' em cima no terraco, fui o primeiro a aventurar-me e agora ja somos oito a partilhar aquele espaco, concentrado na area de menor exposicao matinal, e a' noite cumprimenta-se o vizinho da frente que tambem dorme no telhado. O ze' do telhado ficaria orgulhoso de mim. A cama 'e o meu saco, que era verde e cinzento e agora nao digo que cor tem, nem sequer penso muito nela, nem sequer tento olhar para ela, e se calhar ja' nao me importo. A sujidade faz parte do dia-a-dia e tentar controla-la e' como dizer a um miudo que nao pode partir o seu vaso de casa favorito oferecido pela madrinha do irmao mais novo, e que quando estala tem um soar que vale mais que mil sonatas. Essa sujidade contrasta com a limpeza mental, de pensar pouco sobre estar preso.
Liberdade e' ter o telemovel desligado, nao ter televisao nem internet, nao ter horas no pulso nem no bolso nem no horario nem ninguem que nos diga que temos de estar a xis hora no local ipselon,e o engracado e' que estas completamente rodeado sem espaco nenhum para largar um gas ou um pequeno e educado arroto e mesmo assim estares feliz por nao teres de dar nenhuma e qualquer justificacao a' comunidade que te acompanha diariamente, desde o amanhecer ao por-do-sol.
Vou sentir falta deste Big Brother sem camaras e sem confessionario, partilhado com mais catorze, seis motas e varios bichos de estimacao.
domingo, 4 de abril de 2010
PALITANA-ALANG
Quatro e meia da manha, acordo depois de mal ter dormido um par de horas, para uma viagem de cinco horas ate' ALANG, com passagem por PALITANA.
Sabia que ia ver navios a serem desmontados no maior porto do mundo de reciclagem nautica mas nao sabia que iria visitar um dos maiores templos hindus da india, nem que para o fazer teria de escalar ate' ao topo da montanha, qual Moises, com 43 graus, sol a pique, 12:00, com um litro de agua quente e sem proteccao para a moleirinha. Tres mil degraus.
Mas voltando ao templo. O certo e' que tinha meia hora para voltar a descer, nao tinha pernas nem mais vontade de chegar ate ao Paraiso, o preco parecia demasiado alto e nao fui fisica e mentalmente preparado para tal acto de coragem... se calhar hoje arrependo-me e ontem tinha feito mais um 2step para la chegar ao cimo...
Proibidas eram as fotografias, so para se ver o grau de reciclagem e ecologia que por la anda, com os trabalhadores a morrerem com cancaros e eteceteras e a viverem numa favela paralela ao shipbreaking, como uma linha de duas faces.
Os barcos iam-se "amontoando" e formando fila ao longo da costa, uns a espera de vez aguardavam ao longe na linha do horizonte.
Era impressionante ver em corte os navios, ora desmantelados na sua totalidade ou entao parcialmente na lateral ou como o cliente assim o requeria ou o patrao desejava.
Depois de fazermos a tour dentro do autocarro com o seguranca a nao deixar usar a maquina fotografica, seguimos viagem para a extensa rua que liga Alang ao resto da india, rua que parece a feira de custoias, cheia de casinhas e casonas, tascos e supermercados de produtos maritimos, desde a chapa ate aos binocolos, canecas de todos os feitios, bandeiras, lanternas, redes ou botes salva-vidas. Tudo se re vendia, se reutilizava , se tornava novamente util a's maos dos mais habilidosos.
Mais uma vez, a India como lixeira inter continental, como porto de abrigo aos desabrigados, nos trabalhos sujos que mais nenhuma nacao quer ver na sua area maritima, na sua costa "limpa".
Alang e' um ponto negro no globo, tao negro que para la ir precisamos de licenca e passaporte, nao se pode parar la' , entrevistar ou fotografar.
Quem la trabalha resiste a tudo, aguenta toda a porcaria que se faz pelo mar adentro e nao sao alergicos a nada tirando a Greenpeace.
gostei de comprar um pedacinho de barro com texto portugues, para tremocos e azeitonas, para usar no Portugal quando voltar. E da bandeira Portuguesa com as quinas e as torres em condicoes, sem piramides como as bandeiras portuguesas vendidas nas lojas chinesas.
inicialmente escrito em inicios de abril. ficou no arquivo ate agora.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
MEANING
I'll never smother this fire, forever burning inside
I'm at the point where I'm sucked in,
by the message I get this passion.
this fury is mine and it keeps me alive.
I can't fucking breath until I release what's inside.
An unloaded gun, that will never go off.
a rollercoaster ride, that can't wait to stop
so tell me who the fuck are you trying to fool?
tell me what the fuck have you put your heart into?
Fuck the tame animal restricted to the cage
with predictable actions, that define your "rage"
I'm the motherfucking lion roaring in your face
tearing down those limits that keep you placed
Say I care too much and I got it all wrong?
I'm in this for the message, it's more than just song
blood, sweat, intensity
every broken knuckle or busted knee
I'm doing my best, and I'm doing my part
don't criticize me man when theres no fire in your heart