segunda-feira, 12 de abril de 2010

LOST AT SEA


Ainda ando atras das palavras,

para expressar, tentar transmitir ,se e' que e' preciso faze-lo, o quao complicado e angustiante e' lermos as ultimas paginas de um livro e sabermos quantas faltam para que acabe, um livro que te esta' a dar gosto ler, quem sabe ate' escrever. Ou por vezes deixaste que escrevessem por ti, com um olho fechado e outro aberto, ou a olhar para o lado como quem nao quer a coisa mas ciente do que se esta a passar.

Sim, e' complicado. As ultimas sao sempre complicadas, porque sao as ultimas, porque podem nao voltar mais e normalmente nao voltam, e porque representam o fechar de um capitulo, de uma etapa, por vezes de uma fase, ou no seu mais basico significado o fim. O fim que sempre chega, para todos e para todas as coisas, mais cedo ou mais tarde, suave ou agreste. Certinho direitinho.


No sabado foi um desses dias, e estes dias tem sido de ressaca, para ja' suave, com uma ligeira dor de cabeca, uma leve indisposicao. Os meses parecem anos, frequentemente pesam como tal, para o bom e para o mau, mas como tudo na vida, mais vale andar para poder contar, aprender para poder ensinar. Se recearmos tudo isto, estagnamos na apatia de um quotidiano calculado e metodicamente preparado. Ou entao nao ha contacto, sem trocas externas, sem sentimento. E porque tudo acaba, valera' a pena abrir o leque? Porque o final sempre aparece, sera' que ha um calculo matematico para a despedida? Para o derradeiro "ate' qualquer dia"?


O meu avo Quim Casinha, teimoso e pessimista, bom e duro homem de valores e dedicacao, de gancho, dente de ouro no faqueiro ja bastante perfurado mas que ainda trinca aqueles bifes da Zilda e aquele arroz que so ela sabe fazer, quando foi para o Brasil nos 60s, familia na mala e coracao no bolso, disse "Adeus Lisboa que nunca mais te volto a ver".

Por acaso, das outras dez vezes que la foi disse o mesmo . E se tudo correr bem, da proxima voltara' a dize-lo.

Gosto de dizer adeus e pensar que em pouco tempo ha reencontro, que as coisas voltarao a ser iguais e que todos aqueles com quem nos cruzamos, de algum modo fazem parte deste grande percurso. Parece-me inevitavel ir buscar as historias das aventuras, dos episodios em que ja me vi, com este e com aquele, com "um amigo" ou "um colega" ou um xerife que conheci quando fui ali. Talvez seja sempre nesses contos que estas personagens voltam a aparecer, porque nao pertencem mais a' vida real, ficaram la' atras na memoria, e quando um tipo volta a falar, a conversar, muito mudou, e esse conto deixa de fazer sentido. Pode ter a ver com o " nunca regresses aonde ja foste feliz".


A pergunta que se faz tambem 'e at'e que ponto, se da' , se entrega, se partilha, se mostra. Tenho o vicio do dialogo, da conversa pacata sobre tudo e sobre nada, sobre coisas que de si so' nao dariam artigo de jornal mas que em amena cavaqueira preenchem os seroes e as tardes, as viagens, as noitadas de copadas ou trabalho. Esse vicio mostra bastante, da' muitas cartas, transmite demais. Tenho o vicio de acreditar, de exprimir, de nao calcular muito o que digo e que faco na ocasiao. Acho que o Andr'e toma mais conta de mim que o Nuno. O Andre' que a familia ainda chama, a pensar que esta' a chamar o Nuno.


Se nao formos transparentes usamos uma mascara, nao deixamos passar a palavra, nem passar o esgar de dor ou alegria, a muralha protege, inibe a aproximacao, controla a situacao.


Tudo isto para chegar ao momento presente, de dizer Adeus, a' casa, 'as Vacas, aos meus vizinhos, colegas de sala, colegas de quarto, amigos e companheiros de quotidiano feito guerra.

Se nao tivesse tentado, hoje estaria mais pacificado, mais sereno, frio e calculista como se mais um final de festa se tratasse. Felizmente nunca fui um tipo de noite, e embora me pareca com um simio neste meu desajeito ao caminhar fisica e psicologicamente, nao sou o macaco adriano, rei da noite style ( viva essa intro de mata-ratos) e valorizo estes pequenos e futuramente nostalgicos momentos. Eu olho a' volta e toda a gente ta animada, ja' acabou, siga a marinha. Para mim e' amargo acabar, e' dificil e deixa-me desocupado, deixa-me a pensar que o tempo voa e que ta sempre a contar, a fugir. Estes tipos tao sempre ainda mais ausentes que eu, que sempre na Lua ainda me parece que me afecta muita coisa que se prende bem ao real.


Parece-me que toda esta falta de pensar, sobre o que e' mudar de vida, o que sao estes pequenos oasis que nos permitem viver mais em meses que em anos, e que criam ligacoes fodidas, porque nao ha mesmo palavra mais suave, e nestes momentos sermos suaves e' querermos mentir a no's mesmos numa boa onda mental. A malta anda perdida e' nessas ondas, talvez porque ao contrario de no's portugueses, que valorizamos a ausencia e temos uma palavra chamada " saudade" muitas vezes adornada por outra que se da' pelo nome de "nostalgia", para eles isto significou ou significa uma mota preta a brilhar ao sol. Eu interessa-me mais saber da estrada, que fiz e vou fazer, e de todas as paragens que marquei, todos os que conheci e que gostaria de poder reencontrar com o mesmo feeling com que nos encontramos ca', mente aberta e coracao no sitio.


Antes de zarpar, para Bombaim, Elora, Goa, Varanasi, Kathmandu, Dheli, Londres, Porto e Penafiel, em betao deixo marcado, que por muito que andes, se nao deres nada de ti, nada recebes.


E que realmente, se nao partires nunca chegaras.

A perceber o valor da intensidade.

O peso da saudade

Mas porque tambem vivemos no hoje, o poder do momento.



death threat - bury my heart

2 comentários:

  1. granda poeta. gostei de ler e espero que faças uma boa viagem de regresso :).

    quanto às faixas do split, eu até ouvia, mas os zés da tua banda nunca mais me responderam à última mensagem que deixei no space! (também é culpa minha que não insisti porque tenho estado ocupado com a 1ª release da editora que vai sair antes da vossa).

    por mim esse split é para sair o mais rápido possível! bora lá!

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