quarta-feira, 9 de maio de 2012

THE OTHER SIDE OF MADNESS pt.2


Mordi uma codea recessa com dois dias, bebi meio copo de leite, tentei não fazer barulho para não acordar o meu colega de quarto, o Samir, daqui a pouco pegava ele no trabalho, ser padeiro tem destas coisas, é como mandar farinha ao mesmo tempo que anda toda a gente a cheirar coca, same shit, different timmings. Ferrei o sono durante pouco menos de meia duzia de horas, pouco mais do que o necessário para acordar menos rabujento que o que a normalidade me acostuma, ensaiar um quarteirão de sorrisos inocentes e cativantes, mudar de roupa, passar água pela cara, comer mais um bocado do naco de codea que sobrou de há três dias atrás e apanhar o caixote amolgado barulhento e apinhado de gentes que normalmente o chamam de autocarro, sem AC. Pelo caminho, suo a camisa deslavada que levo, e mal salto fora daquela espelunca, retiro do saco de plástico branco imaculadamente guardado dia após dia, uma ourta camisa ainda a cheirar a amaciador. Há uma enorme tabuleta imaginária que se ergue por entre a poeira, limpa dia após dia, pela minha alma e pela dos outros, e que diz qualquer coisa deste genero "Bem-vindo à terra encantada". Enquanto leio isto, normalmente os meus ouvidos adornam-se de assobios, berros, sussurros, gentes que vão falando disto e daquilo, chamando a atenção de uns, orando ao alfa, berrando pelo omega, calcando os calos de outros, empurrando quem se à frente mete,e eu, no meio do turbilhão, como se do meu quarto às escuras se tratasse, vou indo e caminhando e abanando a cabeça, sempre sem largar os olhos do caminho, da frente, a ouvir um riff teso a ressoar nos timpanos sobreposto aos milhares ruidos atrás descritos.
Assim sim, vou embalado, qual míssil, qual torpedo, qual jacto de água lançado sobre a revolução, zarpando pelo bazaar de gentes e cores e sentidos e merdas a voar por alí fora, sentidos despertos, com a jarda toda a fluir pelas veias latejantes. Busco por um bidie no fundo do bolso cosido e recosido, puxo dos fósforos, acendo, puxo um bafo, puxo dois, e continuo por entre aquela massa disforme a que chamamos de multidão.
Um timbalão, dois timbalões, um mute, dois mutes, a 120 bpms e a manter aquela aura de destruição, enquanto eu me dirigia para as destruídas pirâmides e seus sonhos desfeitos, pedra sobre pedra, o tempo sobre o tempo, sorriso na boca. Saquei do meu cartão de guia falsificado pelo mestre que falsifica noventa e cinco por cento dos cartões de guia dos guias que por aqui andam, cumprimentei o meu colega de trabalho que estava já entretido a passar a mão pelo cu de uma Loira Americana ( era americana porque ria muito alto e tinha toda a pinta de que falava por falar ainda que falando como se falasse), dirigi-me ao pequeno quiosque em chapa da esquina, pedi um pouco de paan para mascar, apodrecer um pouco mais as gengivas e os dentes com aquele vício dos pobres.

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