domingo, 13 de maio de 2012

THE OTHER SIDE OF MADNESS pt.3


Hoje ia fazer o percurso A, primeiro até ao Z, aquele no qual passamos pela esfinge, debitamos várias palavras no melhor inglês possível, falamos sobre tudo aquilo que nunca soubemos saber sobre o tema proposto, voltamos a esboçar mil sorrisos façanhas e teorias da conspiração sobre o maravilhoso complexo arquitectónico que calcamos. Mas hoje é um dia diferente, agora e aqui, onde me encontro, sinto que detenho a sabedoria para a resolução de todos os meus problemas, problemas que são meus e teus e deles, dos grunhos que iam comigo, um casal de Italianos estúpidos que só faziam perguntas ridículas e às quais eu respondia de forma mais ridícula recebendo em troca um acenar de cabeça de quem pouco pensa e muito diz. E sim, eles vinham comigo, iam viajar comigo até ao confim deste e do outro universo, porque após anos e anos a calcar este lugar, segredos era coisa que não havia. Já me havia decidido, aquando o percurso até aqui, hoje era o dia e chegara a hora de ir para outro lugar, can´t you see the signs?!
Pedi-lhes dois minutos, entrei num barraco forrado a ripas de madeira empilhadas na vertical de uma forma desconcertantemente tosca, puxei da papelada que trazia no bolso. Baixei as calças, sentei-me sobre o buraco, deixe-me relaxar. Larguei um bloco de cimento acastanhado, amassado pelos meus intestinos em direcção ao vazio.
Era só uma lambidela, só uma ponta desse músculo de sensações e papilas e acções e provérbios verbais e literais ia tocar no papelzinho, tão pequeno que nem para confeti dava, ainda assim, havia espaço para o sonic the hedgehog. Lambi o papel, lambi a mão, lambi o braço, lambi as unhas, lambi o peito, lambi as ripas de madeira. Senti o rodopio do furacão, o tapa na pantera, arreganhei a boca, puxei os lábios para fora, fiz caretas à minha frente sem espelho sem nada, abri a porta e a luz passou por mim à velocidade que ela gosta de ter, rápida como o caralho. E fui, pé ligeiro, sem cautela.
Seguimos pelos becos e estreitas galerias, cada vez menos luz, cada vez mais sombra, até que demos por nós perto do início da grande subida, o bilhete pelo qual todos anseiam pagar, a ascensão divina, o triângulo ancestral, a grande pirâmide. Um degrau, dois degraus, and so on, até que, para pura e simples estupidez dos que me acompanhavam, eu desloquei um dos grandes blocos de adobe, amassados pelas eras, e o maciço pareceu uma pluma nas minhas mãos. Podem entrar. Caminhamos sobre a poeira, na escuridão quase total, faltava uma tocha como nos filmes, apenas se ouvia o vento assobiar, aqui era bem mais fresco, mais claustrofóbico. O interior fazia lembrar um caleidoscópio, daqueles que se faziam no jardim-de-infância. Um grande amigo que um dia cá tinha vindo, e eu, sem mais nada para onde ir ou fazer, sem lugar onde cair morto, decidi acatar a decisão de seguir para o vazio, para onde esse meu conhecido fora um dia e um dia me havia dito que descobrira o âmago de tudo, o espaço sideral e multiplicado de uma sala que continha todas as outras, um lugar tão sombrio quanto esmagador, pelo silêncio, pela visão assombrada do interior invertido da pirâmide do faraó, diabo carregue o outro onde trabalhava.
No meio do rodopio, ouvia os outros dois burros a saltarem de alegria, estavam lá dentro.
Abri a carteira, tinha meia dúzia de tostões. Merda, não era suficiente para a grande viagem até ao paraíso. Ainda tinha guardado no bolso de trás das calças um pequeno seixo, de estimação, para situações como esta. Fui directo às jugulares, o sangue correu no meio dos ruídos silenciosos e profundos do espaço iluminado e vibrante, era uma bad trip à maneira, uma puta tão grande que nem senti pena das duas ignorantes almas que me acompanhavam até então, seus nomes anónimos, anonimato que me ajudou a superar a dor da perda, dos outros, não a minha, e sobre a qual apenas residia a minha vontade de perceber se ia para o além com mais uns trocos no bolso. No fundo ri-me bem lá no meu íntimo mais profundo.
Carteiras revistadas, chegara a hora de partir.
Envolto em tudo aquilo que me pertencia como memória de um punhado de pó que se chamava vida, agarrei-me aos tomates e saltei para o vazio da pirâmide, invertida dimensão de muitas outras, não berrei, segui calado porque calado normalmente digo tudo. Enquanto fui caindo no vazio, ainda consegui ouvir os pianos.
Um piano, dois pianos, três pianos, PUM!
Esperneei, cheio de farpas a cravar a pele, com o deserto na garganta, pintado em tons de ocre, cego pela luz, coberto pela chapa que escaldava, todo cagado da cinta para baixo, nu.

- So take a trip with me, to the other side of madness -
Cro-mags - The other side of madness

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