segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ser o macaco do zoo

I sorry my friend but I cant pick you! My mother is sick and i went to hospital.
Who's this?
I sorry my friend.
What the fuck are you talking about? Are you the pickup for the bus? Bus to bangkok at 6:00am?
I sorry my friend, no english.
No english um, e no english o outro que me tinha entregue o nokia - 3310 - para falar com o morcao que tinha a mae doente no hospital e por motivos não podia vir buscar alguém ao hostel. Só quando começamos a parle com gestos e caras feias, é que o morcao da cereja que tinha parado o tuctuc à hora em que supostamente íamos ser rebocados para mais uma infernal odisséia, disse angkor wat em vez de Bangkok. Afinal ia buscar mais um turista para ver o nascer do dia em Angkor. Não resolvia o meu problema de falta de transporte, só resolveu o hipotético de não ter mesmo transporte porque a mãe do outro estava no hospital. Sorry. No english.
Assim terminou a aventura de Anita na floresta. So fui como assistente de produção. Rebobinando, de Saigon ficou uma curta passagem, fast pace, pautada pelo engano da recepcionista do hostel, quando nos informou que tínhamos ligações para Siem reap a pontapé, hora sim hora sim. Como a grande parte da informação aqui adquirida, e como diria Joao Pedro Pais, era mentiraaa. Empurramos as roupas para a mochila, aguentamos com o banho da noite anterior e engolimos uma omelete com pão seco a custo de picanha do Brasil. Pagamos sempre a ocasiao, seja aqui ou em santa comba dao. 9:00 e entravamos e mais um expresso, sem pinga de turista. Havia de correr bem, mas so apetecia mandar tudo para corner, como diria Clemente com insatisfação. Pelo meio paramos em phnom penh, recarregamos a bateria do tlm para a candy crush saga e trocamos os Dongs que tinham sobrado por Riems.
Esta foi a lost estrada nacional de Lynch cambodiano, esburacado como a ciciolina, perfurado como uma esponja, derretida como trang bang - fizemos a highway 1 de Saigon até à fronteira, revisitando o local do bombardeamento de napalm, que acidentalmente criou a imagem de uma guerra sem norte nem sul, the girl in the picture-, noite fora, noves fora também, dor de cabeça e fome de bola e esticar pernas e costas, com a coluna a torcer sempre que havia mais um salto sem para-que das. Arrivamos tarde e com um apagão generalizado em Siem Reap, num episodio de The walking dead, sem cowboy, só ladyboyz e meninas da rua, de braço esticado e perna arqueada, olhos vidrados num oito. Nossa, que bio-lência.
Partimos cedo para Angkor, para nos perdermos num complexo gigante de ruínas que se imaginam transcendentes para época, ao ainda o serem, hoje, tão megalomanas. Dá para ter uma ideia, de nós, e do que temos feito. A pedra emparelhada é tao antiga que as árvores pisam e galgam muros e palácios com a força e aspecto de dinossauros e anacondas, serpenteando numa fábula que apenas quem testemunha in situ, consegue perspectivar. Não é o Mosteiro de Paço de Sousa, nem sequer próximo do Convento de Tomar. Até comparando com o panorama Europeu, é difícil encontrar um aglomerado de construcoes maioritariamente feligiosas, que se estendam no territorio com uma escala identica. Em quase oito horas, olhamos - sem visitar com cuidado - para cinco templos. Era muita fruta para a Carriagem que já ia cheia, de cansaço, fotografias e working tourism. Mas o mais importante e notório era o sentimento de impotência perante a natureza e a sua ocupação, pé ante pé, de tudo aquilo que se havia intrometido no seu âmago. Se a pedra fora assente, e de algum modo quem a assentou desapareceu daquele lugar, como sociedade vigente de notório poder e influência, uma nova camada superou a anterior, como a barba que é cortada com a cadência matinal da que cresce enquanto dormimos. A visão do apocalipse, coisa do capeta; a potencia insuperável dos irrepetiveis passos dados em falso, quê terminaram com um vazio, agora perene, no qual, para coincidência e ironia das ironias, somos nós outra vez, a vermos o museu da auto destruição, capitulo no qual conseguimos ser exímios trapezistas de circo. Espectadores da extinção. Sentarmo-nos em Angkor, algures no meio do arvores e muros e ruínas infinitos, a olhar as pessoa a passar, paulatinamente fotografando r apontando com o dedo, é como mirar a jaula dos macacos, ou ser como macacos dentro do zoo, num espelho em mirror ate ao fim, em repetição, chamem-lhe cue, loop, disco riscado, o que quiserem.
Era incrivelmente belo, assustadoramente solitário, na razão entre o envelhecer e o desaparecer, nesse equilíbrio, delicado e finito.

Both Worlds - hate mantra




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