sábado, 31 de maio de 2014

Apocamelo Now

Acordei sobressaltado. Estavamos parados entre duas casas, quase em cima de um quintal. Seria Hue? Nao, era so a paragem do costume para gastar uns trocos em cafe, bolachas e bananas. Oito da manha, tinhamos dormido bem no sleeper sem nada a apontar; bruta energia para o desgaste ate' Hoi An e Ho Chi Minh.
Pedimos um cafe, uma omelete, umas bananas e a garrafa de 'agua que tem lugar cativo a cada mesa por onde nos sentamos. Ainda estava a abrir os olhos quando me comecei a aperceber que estavamos na DMZ, zona centro do Vietname onde outrora se dividiu o Pais em Norte e Sul. Num periodo que antecedeu a Guerra do Vietname, fruto das negociacoes entre China, Ho chi Minh e Franca, originando dois Paises com respectivas capitais em Hanoi e Saigon. Tudo isto e muito mais na wikipedia e na enciclopedia la de casa. Basicamente, Platoon, Apocalipse now e Full metal jacket 'a distancia de 20$, com almoco incluido e transporte para Hue, onde supostamente iriamos apanhar a ligacao de Hoi An as 13h. Hesitei bastante, a Ana disse que alinhava e eu queria matar o bicho antes que fosse embora e nao visse tunel nenhum a nao ser o de 'aguas santas. Soava tao tao a esturro, a cena do cota que tinha uma van para nos e que nao so ligava para a Camel Travel como tambem sabia as horas a que a camionete partia . Mas ya, estamos sempre na rotacao maxima na tentativa de nao ir para casa com a sensacao que ficou tudo para ver e que foi so vir passear a peida a oriente, de modos que, siga a marinha, bota nessa. Seguiram todos viagem, estupefactos com os dois morcoes que estavam a abandonar o barco antes de bom porto, retirando as mochilas da camionete e a seguir viagem para norte, no sentido oposto ao que a caravana tomava. Mesmo cena a la tuga, venha venha venha ver a merda que fez. Ta tudo a marchar para um lado mas vamos no oposto que la e que vai ser bom.
O mestre tinha referencias porreiras no caderninho, coisa que funciona muito por estes lados quando te perguntam de onde vens e te mostram prontamente uma review de um artista da tua zona, se nao tiverem de Portugal vem de Italia ou Alemanha. Afinal de contas, para nos oVietname tambem fica para os lados da malasia e da china e da coreia e da indonesia. Works both ways.
Comecou fraco mas a coisa la aqueceu, seguindo os passos da ocupacao americana, vimos a ponte pintada de duas cores - 17th parallel bridge- uma para cada lado da barricada, tiramos as fotos da cena a' frente dos monumentos - big as fuck como todos e quaisquer monumentos de propaganda socialista -, e seguimos para o prato principal. Os tuneis de Vinh Moc.
Ele era call of duty, era medal of honor, era tudo. M16 ak47 counter strikes e lanca rockets como diria o meu irmao. Tudo para dentro do caldo, e voila' , sentimento de estarmos mais uma vez a viver o filme que realizavamos, estilo Francis Ford.
Os tuneis sao impressionantes. Arte e engenho ao expoente maximo, descemos ate aos 15m de profundidade, onde outrora mais de noventa familias viveram enquanto as bombas iam caindo a' superficie. Maternidade, quartos, sala de reunioes e uma zona ainda mais profunda anti bomba perfurante. Top quilhones. Ate aqui, tudo certo. Ate ja comecava a acreditar que estava tudo controlado. Deu tempo para dar uma volta pelas praias,descer a costa ate ao tascoso e almocarmos a' pressao para poder sair a tempo de apanhar a camionete para Hoi An. Right. 'E nesta parte que nos ferramos, big time. Hurry hurry, mini van mini van! Go my friend go my friend! E, sem ter muito tempo para pensar, atiramos com os sacos para a carrinha. Estavamos apinhados como roupa na maquina de lavar, entre peixe seco, sapatos para revenda, e mercadorias que iam para Hue. Isso mais a gente que seguia conosco, ao meio dia, com bus as 13h, estava num calor do caralho, suor a rolar em bica, pouco espaco e a carrinha parecia que ainda vinha da guerra - montada com partes de um aviao americano despenhado em rockpile. Era uma Hiace como muitas que ja vi, mas esta ja ia a rodar mais do milhao de kms, e o piloto levava uns rayban da moda, com quem conseguia comunicar quando metia a cabeca de fora e com alguma mimica esperava que ele olhasse pelo retrovisor. Ainda voltamos para tr'as para apanhar uns quilos de batatas e cebolas e que se fodam os estrangeiros que vao no banco la' de tras e que por muito que digam hello my friend, hurry hurry, 'e mesmo um "pa que vos pariu" inde brincar para a vossa terra. A minivan que o artista nos tinha orientado, nao era mais do que uma especie de autocarro / carrinha que aqui faz o percurso da aldeia ate a' cidade e vai carregando gentes e pertences para la' serem entregues. Arrivamos duas horas depois, no outro lado de Hue, mochilas as costas, sem ligacao para Hoi An e sem spot para a dormida. Pior que isso, sem comprovativo de que tinhamos viajado na Viagens Camelo. Depois de gesticular, bater punho e dar o cartao da agencia de viagens de Hanoi, la tivemos direito a bilhetes para o dia seguinte. Sem paciencia, e com a nocao do dia perdido num calendario ja de si apertado que nem o nosso olhinho do cu quando nos demos como perdidos depois de deixar os turistas continuarem na viagem onde supostamente iamos bem, so me lembrava que a caminha e' cada qual que a vai fazendo, e nos tinhamo-la feita assim mesmo. Sem lencol nem fronha, porque esta calor e a gente gosta de dormir ao relento. Porta seguinte, albergue por 8$. Tratamos de lavar roupa e tratar de bizz. A viagem nao acabava ali, e la porque ninguem para em Hue, nao quer dizer que Hue espremidinho nao tenha sumo. Mas a moral da tropa estava baixa. Eu bem disse que curtia o Apocalipse e o platoon. Era preciso algum vedume de vinganca e fodilhice para ser vietname.
Enquanto uma hora antes deambulavamos pela cidade velha na minivan, reparei num spot com bom aspecto, num lago cheio de nenufares. A esplanada do Calvario la do sitio. Quando voltamos para a cidade, a pe', num fartote de metros, tentamos dar com o sitio. E demos! Oasis com menus so' em vietnamita; a pinta do menino. Cerveja local e gente local no meio do lago dos patos. Luxo. Afinal ainda mexia, ja tinha levado biqueirada na tromba mas a viagem ainda mexia. Um relax, duas de mimica para beber e para pagar e guiamo-nos para a beira da cidade proibida para poder desenhar um pouco. Havia de se arranjar ocupacao para o tempo. Encontramos um sitio que parecia antigo o suficiente para ter boa comida, o rapaz - chamado Uy-, veio prontamente receber-nos e o frango do menu parecia estar a chamar por nos. Estavamos no low cost: depois de 20$ para uma meia visita, mais algum para a dormida, equivalia a dividir a coxinha. A nalguinha, massacrada ou nao, cada qual ficou com a sua.
Estendi o caderno, duas fresquinhas e venha o frango. Uy senta-se e fala-nos de fazer Hue  para Hoi An de mota. Nem olhei nem falei. Ja tinha sido comido duas vezes num dia, tres vezes ja era ir ser mais Camelo que o Goda. A Ana ficou toda feliz com a perspectiva de irmos de mota, de perdermos o bilhete que ja estava pago, e de rebentarmos mais 35$ na viage. A verdade 'e que esse ;e o nosso budget por dia, se tivesse tudo incluido, era um bom plano - como todos os outros que ja deram teia.Ta tutti. Depois o Uy comecou a mostrar comentarios e apanhamos um gajo de Paredes - qual e a probabilidade - Jose Rocha, a dizer maravilhas da coisa. E mais uns tantos mundos e fundos pelo tripadvisor. Damn, ser'a que finalmente tinhamos dado com alguem em algures, que ia meter a coisa a rolar sem incidentes? E foi realmente coincidencia termos ficado em Hue por acaso dos acasos, nao, melhor, por camelice das camelices, nao dos outros, mas nossa, por ainda acreditarmos em tudo o que nos dizem a' primeira. E' mais vontade de acreditar que crenca, mas tudo bem, se por ai fosse, muita gente nao ia a' missa ao domingo nem levava o menino a' escola.
Viemos de mota ate Hoi An e contra todas as probabilidades, esta deu mesmo certo, sem truques, so gozo e muita hospitalidade. Foi no olho do cu, mas do touro. Bull's fucking eye. 50 pontos nas setas. bola preta a' tabela e com o buraco apontado.

The Doors - The End









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