quinta-feira, 29 de maio de 2014

Napalm na rua sésamo

Passaram quatro anos, mas lembro-me bem da noite em que estávamos a chegar a phokara. A Inês estava acordada e saiu-me qualquer coisa do gênero: um dia havemos de ir ao Vietname. Há dias foi assim mesmo, carimbamos o passaporte e pisanos a terra dos mil dragões, das mil motas, dos milhões de springrolls, litrosas de napalm e sete bolas de cristal.
Nightbus para Hoi An. Mais uma maratona para as Rosas Motas que querem fazer tudo num mea. Quanto mais vamos falando com mochileiros, mais nos apercebemos da gigante quantidade de pessoas a viajar sozinhas durante largas temporadas. Um mea já foi obra, tirar meio ano é cortar cordão umbilical.
O bus esta sereno, muita lomba, mas apesar de tudo este tem wi fi - só fora da hora ponta, quando tudo dorme dá dois pauzinhos de rede - e tem WC que fica aqui mesmo atrás. De quando em vez da direito a fragancia sem aloe vera. Esta perfeito. Das dezenas entre índia Nepal Tailândia e Vietname, este ganha o globo de ouro. Tanto e que ate o Jorge palma tocou uma cantiga ali a frente ao Lado do motorista: ligamos o microfone que faz sempre fiobeque nas visitas de estudo da escola e o jorge lá tocou a encosta-te a mim, mais bêbado que um penedo. Aqui o meu amigo vietnamita do lado, que ressona a patrao, tombou logo em combate com a musicalia.
Hanói, nais uma cidade de Calvino, dentro do alfabeto das cidades asiáticas, num sem fim de soluções - algumas bastante praticas e pragmaticas- entre becos e layers e fachadas sobrepostas entre si, em desequilibrada relação com a rede se alta tensão e telecom, adornada por arvores de flor lilaz e vermelha. A tinta descascada ou desbotada ainda lhe da mais caracter, e as motas rolam sozinhas sem condutor. De noite ha trezentas luzinhas para cada uma das trezentas pequenas barraquinhas que habitam nas ruas, das floristas às lojas de papagaios de papel, entre AA de fogo de artifício aos items maia exóticos da gastronomia do Vietname. E quando deixa de haver espaco, Há estreitoa corredores originam patios, como bolsas de ar debaixo de agua, ou os negativos de um formigueiro. São formigueiros, estas cidades. Numa hierarquia incompreensível ao olho nu, numa azáfama maniaco compulsiva, num tilintar de repetição não singular. São números do matrix, cálculos e contas entre parcelas e pessoas, bens carregados e personagens que sendo figurantes, contribuem para que a cidade funcione, anomalia aqui e anomalia ali, mas em consonância com o bater do coração do velho quarteirão.
Chegamos ao hostel em hora de ponta. Era happy hour disse o mestre da recepção. Cerveja grátis das 7meia as 8meia. Parecia erasmus outra ve.z. a mesma cerveja choca, a malta a martelar no inglês, bar Fatela, paredes riscadas, e gente aos molhos, se todos os gostos e feitios. Melhor recepção de sempre. Estivemos o tempo todo a ver quando vinha o repórter de imagem e o apresentador irreal para os apanhados. Não ha assim tanto turista quando nos perdemos pelas ruas, ha bem menos que na Tailândia. Aqui há mais freak e obstinado, cena de promessa e tira teima exótica. A Ana foi protagonista de algumas fotos com miúdas da primaria e ensino básico. Também fomos apanhados em muitas câmeras de telemóvel, de forma mais ou menos descarada. Senti-me o Kevin Costner aqui do sitio, sempre com pé ligeiro e cautela, não fosse a Whitney ser abalrroada por uma mota ou por um motorola. A Ana ainda comprou um chapéu daqueles à filme do van damme , para ser ainda mais discreta. Eu comprei uns calções à tropa, para parecer ainda mais yankee. Não há nada como jogar com a probabilidade, sempre a escacar pedra. É jogar na raspadinha, ganhar um euro, e apostar outra vez para ganhar mais.
Fomos a HaLong Bay, num barquinho que acahavamos ter sido bem regateado - como já é costume, somos comidos de cebola da - e aproveitamos, juntamente com muitos outros barcos, a vista na baía. Ainda não tenho capacidade para descrever. É maia uma daquelas à filme. Ate acho que se fazem viagens destas para podermos entrar em filmes, como actor secundário, principal, figurante ou figurino, pouco interessa. É tao pesado e denso que demoramos a atingir. É como atirar a moeda para dentro da maquina de flippera e está demorar uma fracção de segundo a mais, para bater na caixa de latão onde estão as outras moedas. Tenho método muita moedinha para jogar SNES e do cansaço já faltam as palavras e adjetivos para a descrição. O disco rígido começa a ficar cheio. Comer no barquinho, beber no convés com o resto da malta, enquanto as montanhas pareciam cada mais icebergs à medida que o gelo derretia na superfície da garrafa. Chegamos à conclusão que as duvidas e questões que temos enquanto miúdos e pré adultos em Portugal, são bastante idênticas às dos outros, lá na terra deles. Good to know.
Hoje tivemos um pick up para vir apanhar o bus surreal. Primeiro seguimos um gajo de scooter, que diz trabalhar para a empresa de expressos. Chegamos à rua principal depois de cem metros, e aparece uma carrinha completamente cheia para noa carregar. Carregar é a palavra.Lá nos encaixam à LEGO no meio das pernas e dos bracos dos outros, e andamos mais três ou quatro minutos ate nos deixarem meia hora numa avenida, sem qualquer camionete. Cheirava a scam. Já depois de estarmos à conversa com duas canadianas, volta a mesma carrinha do inicio e volta a carregar os torpedos todos para irmos para a água. Ta foder xerife, uma hora depois, voltamos ao ponto se partida e já a camionete estava cheia. Foi o seus ma livre. Ainda apanhei este fantástico lugar ao lado da sanita. Houve a quem falhasse mesmo Cocó, tipo corredor, ou ir lá na frente sentado, tipo prof, a orientar o motorista. É que ele pode não saber do caminho, e assim é da maneira que não ha enganos.
Cada dia é como cada qual, há sempre mais um episódio que não nos deixa dormir enquanto não esta os suficientemente fartos de sermos surpreendidos.
A surpresa vem sempre no pacote, seja no mais caro, ou no mais lowcost.
Não encontrei o songuku nem porra nenhuma de bola de cristal, apenas mais um pouco de paz.


Jose Gonzalez - how low


P.s. depois de escrever fui jogar a um jogo fixe chamado mudar as aguas num autocarro em andamento. Mote: ir descalço r numa estrada bombardeada por americanos ha algumas décadas. O objectivo principal é não molhar os pés e canelas. Secundário, acertar na sanita. Se der, bem bem, é apontar mesmo no buraco.



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