sexta-feira, 23 de maio de 2014

THAKA!

Dhaka ficou para trás há quase uma semana. Uma semana que poderia bem significar um mês dos últimos quatro anos volvidos desde a experiência indiana. Nada mudou. Assim que saí do terminal, o faqueiro arreganhou, soltei uma pequena gargalhada, rejubilo instantâneo. Afinal de contas, não fora este o quadro que vinha a pintar faziam já tantos dias? Tínhamos pickup do albergue - quase hotel, porque em dhaka não ha hostel, turista é ave rara e todos vem por negócios. O tráfego era o mesmo, o cheiro, o aspecto de metrópole sem fim onde os homens são tantos quanto as formigas e os insectos e o ar saturado que se respira. Era tudo demasiado, em demasia, e totalmente idêntico aos kms que vivera na índia.
Ao chegarmos, vimos a assembleia nacional ao longe, arreganhei os dentes e disse um tcheii - tu Bates mal man, tu Bates mal man, tu Bates mal man. Era isto. Era mesmo isto.
O Tamzid, esperava-nos eram 7:30, tal como combinado. O Tamzid, o surpreendente Tamzid. Fomos a pé até sua casa, num bairro da zona sul da cidade, dhamondi. Mae e irmã, recebem-nos de forma solene, limonadas e cumprimentos, toques com a cabeca, olhares amáveis. Soou a casa, bem cá longe, soou a recepção tuga, aquele gênero do toma e come e bebe e come mais um bocado que estás a botar corpo e bebe mais um bocado porque lá não tens disto! And só on. Linguagem gestual. Todos felizes, barriga cheia, alma preenchida. Dhaka prometia maaaan.
A Ana acalmou um pouco, sorriso nervoso, era muita gente, muito caos, cheiros e ruídos, pressão de panela de pressão ideia casa ao seu dispor. So faltava a velhota a falar com voz anasalada. Mas tranquilo, no passa nada, nem um ai nem um ii, muito menos um raspanete pequenino pelo morcao do namorado que não a convida para Punta Cana vamos à lá playa.
Voltamos a misturar-nos na selva, cidade velha, labirintos do fauno, do italo Calvino e do minotauro também. Tudo a que tínhamos direito, padrada atrás da padrada, poeira chapa e fachadas a monte, creiziness. Podia parecer que tínhamos ido para a chopinaite e tudo andava a volta mas na verdade, estava tranquilo, tinha desviado a rota para isto mesmo, voltar a injectar tamanho ópio emocional, mesmo na jugular. E com os dentes bem cravados na cinta.
Almocamos na beauty boarding, lugar perdido num pátio com quartos a 5tks. Vimos o porto e o rio escuro. Rolamos pela cidade de CNG e rickshaw, sempre no meio do turbilhão, e nem um turista, nem uma cara pálida, só a da Ana, muito de vê em quando.
Estávamos de directa, mortos-vivos pelo calor e atmosfera, bastante vestidos e o Tamzid até me orientou um chapéu Justin Timberlake nsync que me ficou a matar. Chica, não estávamos à cerca do quão camuflados estávamos.
Voltamos para jantar em casa do sr Mogno, mais comida, deliciosa, ate deu vontade de soltar a lágrima, era demasiado, parecíamos parentes distantes que não se viam ha décadas, separados pelo karma e pelas voltas que as vidas dão. Tanto carinho que ainda não temos palavras.
O resto de Dhaka foi assim mesmo, conhecemos mais amigos, fizemos outros tantos, comemos tanto que nem sei como não viramos o barco ao largo do lago; andamos muito, vimos o Louis Kahn, que foi uma autêntica final da Champions league, momento único de orgasmo arquitetônico, com direito a garganta com nó, assim que nos aproximamos da entrada lateral, junto da mesquita, pelo túnel à Eduardo, como manda regra, como dita a proporção, e, acima de tudo, intrínseco ao lugar e à identidade de um País como o Bangladesh.
Foi um remate ao angulo, daqueles que fazíamos no jardim ou no ringue a jogar aos campeões, puta, até assuvia. Um culminar do tridente do oriente, chandigarh, ahmedabad, kathmandu e dhaka. Os Corbusiers e os Kahns. Riscados da bucket lista.

Tivemos direito a tudo em lugares de sofrimento e perda; nenhures para muitos, a totalidade para nós.

Our respect and deepest feelings for the Mogno family.










Sights and Sounds - Sorrows


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