Voo tigerair, dois ressacas na fila da frente. Pedimos lugares perto dos lavabos, estava tudo demasiado colado com cola da safel, delicadamente equilibrados pela turbulencia e calibre do piloto. Nao valia a pena arriscar borrar as calcas cor de caqui do canadiano sentado no lado do corredor. Melhor assim.
Aterramos em Chiang Mai para umas horas de "pure thai". Taxi para hostel freakshow. Estou-me bastante nas tintas para a qualidade do lugar, da recepcao, do p'atio, do jardim, alias, ate' sou dos que toleram um mau pequeno almoco. A unica cena que nao 'e toleravel 'e a falta de esforco por parte de quem te recebe, quando pagas para que te receba, e te faz o jeito de orientar um par de chaves para entrares num quarto com paredes de papel e restos de mdf. Mas tranquilo, ate isso ia bem no roteiro, sa foda a fronha da menina - cara de cu em portugues -, a ideia era dar um passeio pelo centro de planta quadrangular e comer com serenidade. Era so isso.
Fomos divagando sobre o roteiro a seguir, se Luang prabang para o dia seguinte ou para depois, se iamos de barquinho ou de camionete, se pagavamos em dolares ou em thai bats. Perdemos uma boa parte da disponibilidade mental para a cidade, equacionando os pros e os contras de descer o Mekong ou apenas ir pelas montanhas numas bastante intimidat'orias 18h de banco pouco rebativel. Acabamos na segunda opcao, a mais economica e apesar de tudo mais rapida. A outra historia que nos iam contando tinha muitos defeitos, era so truques aquela merda: Ias de barco, uma lancha fodida que te levava de gazonete pelo rio abaixo e era o mais brutal de todos os mundos porque micavas Birmania, Laos e Tailandia e isso tudo, com dormidas e comes e bebes incluidos. E por sessenta dolares, cheap cheap cheap. O Pai ja' vai.
Alguns noodles e templos depois, lady boyz, nightmarket e feeling tropical de trinta e tal graus e humidade e chuva 'a noite, perdemo-nos numa planta que parecia basica. Bastou entrarmos num templo por quinze minutos para sairmos e encontrarmos a cidade deserta. Ninguem sabia, ninguem tinha visto, ninguem conhecia. E la fomos andando, procurando, ate encontrar o nosso pequeno maravilhoso hostel transformado em Cubata do Caribe.Chegamos l'a e a tenda ja' estava montada - parecia circo de trapezistas. Madona jack miagger bruce springstrung a bombar nos speakers, um/a especime XXL, uma outra ja' com cartao Inatel Gold, um mestre com a nossa idade, e outra india perdida. Tudo que nem lorde a assistir a um filme Sci-fi equanto rodavam uns quantos canhoes. De ar serio e olho no lance, nem deram por n'os. Duas boas noites depois - uma para entrar e sentar no jardim e outra para despedida - sem resposta, aterramos.
Luang Prabang. Ya, Luang Prabang. Fizemos dezoito horas de montanha russa, rafting em estrada, com mais um prodigo filho do Ogier dos montes, a abrir pela encosta a baixo, sempre a reduzir e a puxar serrote, xixi maluco. A Ana nao estava 'a cerca do que eram dezoito horas de um composito que misturava 30% de asfalto com 30% de poeira e 40% de coisa nenhuma. Era acreditar que o ar ia dar andamento 'as toneladas de carga que o paralelipipedo metalico levava. Eram dezoito horas, dezoito horas de dezoito horas que vemos no relogio, ou dezoito horas de saida do trabalho, ou as dezoito horas do jogo da bola ao sabado 'a tarde. Foram dois dias de trabalho, oito mais oito, no meio do turbilhao, sem fim, com os morcoes da frente a rebaterem o banco ate o joelho ficar atravessado de lado e veres a caspa do couro cabeludo do energumeo. Tranquilo, tambem viemos aqui para isso, compramos o pacote com direito a tudo, e rapamos o prato ate' ao fim. Sempre que acordava parecia que ainda havia mais uma curva, mais um salto da pedra sentada, mais uma especial de Fafe, que nao conta, mas que tem gente para caralho e ninguem e' de l'a, so' veio ver a bola.
Quando chegamos a Luang Prabang, o senhor simpatico do bus veio dar-nos um toalhete. Guardei-o na mochila para situacoes em que fosse realmente preciso limpar as maos, os sovacos, as canelas, a testa. Estava na boa, tranquilinho da vida, ja nao havia bitcho que pegasse 'aquela hora, e se viesse, era mesmo do "tu deslarga-!". Era como botar nivea depois de vir da praia. Mas so depois de ir para a praia com oleo johnso e butadine.
Como andamos na onda survival of the fittest, nao marcamos noite no hostel na tentativa de poupar alguns dolares, e como tal, so tinhamos direito a ir la dizer ola' 'as 6 da madrugada. Algumos umas biclas e fomos curtir para Luang Prabang, que nos deixou completamente acordados, como se de uma season finale se tratasse, ou da ultima sequela do teu filme favorito, ou o ultimo boss do Streets of Rage, ou o ultimo capitulo do livro das ferias ou da mesinha de cabeceira que comecamos ontem mais ja vamos acabar hoje, e que, tal e' a intensidade debitanda ao ser lido, nao da' vontade de parar. Luang Prabang 'e o paraiso que necessita do purgat'orio de dezoito horas. Purgatorio o caralho, foi mas 'e inferno, que depois de superado, se transformou numa das mais agradaveis surpresas. A expectativa foi amiga da circunstancia, e o facto de nao esperarmos rigorosamente nada a nao ser descanso, revelou-se gratificante ao ponto de escassearem as palavras para descrever tamanha descoberta. 'E como quem responde na sala antes do colega de carteira, ou insiste em adivinhar o final do filme ou a proxima deixa. Swinging like a boss.
No esquecimento da distancia.
No esquecimento da distancia.
Basicamente foi como encontrar Atlantida, onde so' esperavamos encontrar qualquer coisa que nem no's sabemos bem qual.
Nine Inch Nails - The Fragile
Nine Inch Nails - The Fragile
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