sábado, 28 de junho de 2014

Buakow Buakow

As galinhas e os galos circulam livremente pelas redondezas do ringue, esgueirando-se pelo tartame azul e vermelho queimado pelo sol. A ferrugem pinta aqui e ali, entre os cantos da tinta descacada e desbotada. As instalações sanitárias do Lousada sec. XXI, à beira do buraco no chão e da parede de tijolo rebocado pronto a receber urina do Island Muay Thai Koh Tao, eram um verdadeiro hino à higiene e à fragância à lá Ambipur - quem as conhece, pode conseguir então seguir com a comparação, deixando para vós todas e quaisquer ilações retidas desta metáfora.
As caras queimadas, escondem nas rugas as cicatrizes dos joelhos e cotovelos encaixados com veemência e rigidez, no calor dos bhats, das luzes, do alcool e das mulheres. Mais de cento e setenta combates. Olhos vazios, vidrados lá atrás, nas vitórias e em Bangkok, bastante longe do que é Koh Tao e da rotineira vida de treinos, pautada pelo estrangeiros que aparecem para descobrir ou aprofundar a arte das oito armas. Uns conseguiam disfarçar a frustração, outros descarregavam-na no treino, alguns nem uma coisa nem outra, estavam-se bem a cagar. Tive sorte com o treinador. Franzino, mas "me, strong strong, dedicado ao ensino e com bastante sentido de humor. Um Nelson longe de casa.
Sete e um quarto e já não consigo dormir. A excitação domina-me. Mais um treino matinal, mais um pequeno almoço à meia noite de Portugal continental, mais uma ida ao purgatório. Corda, aberturas, sombra, plastron, plastron, plastron, água, plastron, toalha e água, sparring, alongamentos. A intensidade do treino, conjugado com a humidade e temperatura, eram capazes de verter dois litros de suor. Eram pelo menos dois litros de água de manhã somados a outros dois da parte da tarde. Sempre a dar bita, e a tentar aproveitar o ensinamento e a oportunidade. Os nós das mãos já estavam esfolados, mas as pancadas tinham de ser fortes, no sítio, sem hesitar. Era para isso que estavamos ali, para ficar parado e tranquilo ficava em casa a atirar cavacos - estava dentro, tinha de levar com eles. Sorriso na boca, canelas massacradas, ombros doridos, e pé ante pé, o percurso ia sendo feito com a pacatez do dever cumprido, e da certeza que este periodo faria parte da memória. A paragem para comprar o mixed fruit shake, a azafama controlada da única rua com comércio e coisas que se vissem em toda a ilha, a chegada à SB Cabana, e, entre a madeira com fraco verniz, empilhada em forma de cabanas viradas para o mar, via um braço a dizer adeus, um vulto que sorria lá ao fundo, meio dentro meio fora, à filme, em foque perfeito de manhã, em contraluz ao final do segundo treino do dia, como manda a regra das cenas em câmara lenta e em contraluz que hollywood tão bem domina.
E era assim, que na água, pedia à Ana para não dar pancadas - nem na brincadeira - nas canelas, para poder guarda-las para mais sessões nos dias que se seguiam, com a água salgada a sarar hematomas.
Era bom demais, rotineiro e pacato demais, para quem tinha andado tipo salta pocinhas, em paragens de um ou dois dias, durante três semanas, mas uma semana de interregno total, entre as idas aos treinos e as tardes passadas na água, entre corais e a areia argilosa, trouxeram a tranquilidade que faltava.

Linda Martini - Volta








sábado, 14 de junho de 2014

Shenna, o principe guerreira

Os peixes aproximavam-se das canelas e dos braços à procura de tecido morto, vindo em vagas, sempre que nos encontrávamos estáticos, a flutuar na água transparente e opalina. Com o sol descoberto, víamos bem até os sete metros de profundidade, numa visão que vicia pela cor e tranquilidade, mantendo-nos estarrecidos, enquanto a latência da nossa respiração nos embala. Apenas faltava aquele narrador - Eduardo Rego-, com o tom pausado e pomposo que o caracteriza, falando-nos no espectro da BBC vida selvagem.  No inicio, a historia de andar com o nariz tapado e um tubo encaixado entre os dentes, fez -me engolir umas litradas de agua salgada. Tal como a aprendizagem da natacao com o juneca em Paredes, a partir da aflição e com a cautela de não me afastar demasiado do barquinho, lá encontrei a calma para flutuar e apreciar. Incrível. Podia tentar apontar os peixes numa caderneta de cromos, ou comparar as imagens dos corais com as que via na Sic, ao domingo de manhã, em casa da avó Mariazinha, alternativa às missas da tvi e do alternativismo da dois, enquanto mastigavamos um pão com ovo estrelado.
Alinhamos num taxiboat à volta da ilha, com malta que tínhamos conhecido. Regateamos e fizemos a dança do costume, de posto em posto, na caça do melhor preço. Ao Remi e Agatte, juntaram-se outras duas parisienses e o Robin, que tinha conhecido num treino aquando a chegada à ilha. Ninguém tinha pressas ou must dos, e perante tal falta de exigência, o que veio à rede era peixe. Como diz o outre, o que vier morre. Rapamos a fome de água, sem grande coisa para comer a nao ser as oreo que levavamos no saco xpto que nao metia agua - supostamente. Quando voltamos de uma paragem, o nosso motorista estava a fumar um bongo com outros tantos motoristas na embarcação do lado. Vinha meio Genésio mas o calo era tanto que o bateaux até rasgou alcatrão.
Foi este passeio que reforçou a ideia de que a ilha era o lugar ideal para descansar, treinar e sair. Ir a Koh pa nGhan para a full moon party podia esperar outro ano, e as koh phi phi a um dia de viagem e com chuva, poderiam aguardar uma visita de si mais pausada. Já tínhamos corrido muito. No fim da maratona, anda-se a ritmo lento para baixar o batimento cardíaco. Era começar a fazer picos pela ala para rebentar no placard da Gillete ou Rexona lá ao fundo, à la José bosingwa, sem olhar para área, remate em forca contra o espectador atento. Pe direito cego e o esquerdo nao ve.
Nesse dia fomos todos jantar. Parecia que todos se conheciam há bastante tempo, tal era a cumplicidade. Acabamos num show de lady boys, formato chuva de estrelas, com direito a playback, e, caso o freguês tivesse tomates, lap dance e afins. Entrada livre mas com bebida a custo de bar de meninos, lá consegui dividir uma cerveja de cinco euros com a Ana. Deu para perceber que a cena do trainspotting no banco de trás do carro, por estes lados há de ser mato. Ney Matogrosso. Algumas, com o barulho das luzes, juntando uma carroça cheia à travessia do deserto, adquiriam jogar no Balazar, dentro de muitas normas e standards europeus. Brace yourselves, Winter is coming. Houve quem dissesse que já tinha comido pior e a pagar. E a Asae não ia meter o bodelho no bizz.
A ilha foi esvaziando.
Tínhamos sempre pé e quase que nos sentavamos antes da orla de corais que forrava toda a frente de mar da sairee. A palmeira lá do quintal era das mais requisitadas para fotos, e das que mais sofria com turista burro a trepa-la. No inicio tambem fomos burros a querer trepa-la, depois ficamos normais outra vez. As palmeiras, com sede de vinganca, ainda nos tentaram partir a cremalheira com cocos lançados à má fé, aquele biqueiro que dás no mosh pit, ao calhas mas a saber que é pro mesmo que te acertou com o cotovelo no sing along da malha anterior. Um desculpa lá mas foi de propósito. Ainda bem que caíram ao lado. Quase que deram agua de côco vermelha e grates.
Falando de KOs, o combate no sairee stadium teve dois portugueses da equipa de muay thai do marítimo. Gente boa onda e prestável. Ganharam os dois combates, e, só comigo e com a Ana na bancada, já pareciam estar a jogar em casa. Só faltou berrar golo ou falta. Os palavrões e as palavras de incentivo estavam todas lá. Até ficaram confusos ao ouvirem tanta palavra de carinho, enquanto ritmavam a distribuição de bufetadas a torto e a direito no ringue. O Arara fez um knockout com quatro joelhos seguidos, o um ultimo com um clinch perfeito. O lutador tailandês adormeceu e foi caso de policia para o acordarem. O Alberto Joao veio dizer que era valido, que estava tudo dodo, e que portantos, havia de seguir o carnaval que a vitoria era nossa. O Ingles que foi para o combate a pensar que ia fazer boxe britanico, levou uma penhanha pela direita que nao so caiu redondo, como se foi cruzando conosco durante o resto da estadia, com um olho a belenenses que nem o Jesus, nos tempos aureos em que nem na playstation ganhava ao fifica, tinha feito melhor. Ca padrada.
À parte de tudo, demos por nós a pensar, enquanto a cabeça estava fora de água, na categoria de lugar e pacatez de vida - ócio diria Pessoa, nem posso acreditar dizíamos nós. Ao fim de alguns dias da rotina de treinos, praia, pizza, chang fresca, panquecas com banana, fruitshakes e caminhadas, parecia que já lá morávamos há meses.
A palmeira e o mar continuaram bonitos, apenas menos surpreendentes que no início.
Hoje fugimos para sul, para ver as torres da Bilonia, quem la vai nunca mais torna, em Kuala Lumpur.

Stereophonics - Maybe Tomorrow








quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Cabana

A cortina move-se, irrequieta, contra as paredes azul bebé. A porta abre de vez em quando, forcando o trinco, com a ventania que assobia lá fora. Quando isso acontece, vê-se o mar e as palmeiras na vibração constante da tormenta. A monção aproxima-se, a agua está mais fria, o sol mais tímido e a ilha está a ficar deserta.

Chegamos a Bangkok. Para trás ficara a fronteira e o stress de manter o passaporte sempre em lugar palpável e no limite do alcance. Fui barrado no controle; tinha de ter morada na Tailândia. A Ana passou sem problema. O francês que estava comigo também foi retido. Antes que fosse motivo de azáfama, peguei na caneta e colocando o passaporte como suporte para o pequeno papel de arrival, escrevi Orchid Hostel Bangkok. Nestes casos, há sempre um hostel com nome de flor, ou de planta, ou floresta numa metrópole asiática. Bate sempre a cara com a careta. O outro frances, passar ate passou, mas quando chegamos ao outro lado, o estafeta recusou-se a transporta-lo porque o franciu também se havia recusado a colar um sticker na t shirt para ser identificado como ilegível para o resto da viagem. Acontece sempre em viagens com vários operadores e passagens de fronteira. O casal de amigos que seguia conosco desde Siem Reap e com os quais acabamos por travar amizade, não se meteram na conversa. Nós íamos dizer qualquer coisa, mas qualquer coisa nestes lugares pode significar a diferença entre vir embora ou ficar também apeado. E foi ai que nos explicaram que o Francês começou a guerra já no Cambodja, porque tinha pago para vir num confortável autobus e não numa minivan da década de oitenta. Devia ter uma costelinha e um gosto pelo déjà vu.
Em Bangkok ainda lambiamos as feridas das horas de sardinha em lata, sentados por cima da botija de gás- CNG-, sem posição possível para adormecer. Nem com um Valium nem com chá de frutos vermelhos.
Foi visita de medico, em mais uma mega cidade asiática, com mais fumo e esgoto, gente e gente e mercados e tucs. Visitamos um templo, comemos um pad thai, bebemos um mango shake e fizemos as compras da prache. Era hora de marchar para sul, para as ilhas. Apanhar sol, fazer praia e fazer uma semana de treinos sem caneleiras - rebentei hoje, ao nono treino consecutivo.
Apanhamos o mesmo bus que os nossos amigos franceses- ficamos a saber que eram de lá Rochelle, e lá falamos do Steve de robot orchestra e de lá sirene, boa memory lane-, e dois transfers depois, esperávamos pelo Ferry para Koh Tao. Vestinos a nossa cara mais nova, aquela dos bailes de finalistas, dos shots infinitos, da música techno mega mix, e fomos numa caravana para Loret del Mar, com o barco a abanar para xuxu, e a galera maluca a cantar e a beber fuckin crezy nightz. Estava morto, e comecei a ameaçar virar o barco no xerife que ia ditando a procissão. So percebeu quando lhe pedi um saco. Era tipo o dinheiro ou a vida, neste caso, à lá rei Herodes, ou te calas ou te fodes. Se não tinha saco levava com um mix shake de oreo batata frita e cola, a ementa que figura nos anais de qualquer viagem noturna. A ana também estava irritada. Pensava que vinha para uma ilha deserta, naufrago style, comigo a fazer de bola Wilson. Consegui ler-lhe nos olhos a vontade de afundar o barco, longe da costa, longe de terra. Era exclusiva a ilha, paraíso perdido a troco de tostões, e mais ninguém viria para cá. Claro que não. Nós até fomos os primeiros a lembrarmos-nos disto, mais ninguém sabia. Quais descobrimentos quais homeros.
Há sempre os artistas que promovem o convívio entre os demais, seja berrando um pouco mais alto, ou dando encontrões, ou até roubando garrafas de tequilha a outros borrachoes. Aqui não havia um nem sois nem três. E não eram poucos, bastantes. Era uma autentica academia de ninjas do barrio, cada qual com o seu secret move and quote. Uns mais british english, outros dos states, alguns mal falavam, varios mal abriam os olhos. Mas eu no papel de coveiro não fui atrás deles. Eram em numero suficiente para me encherem a maleta, e a cena de fiesta era o setting, nós é que estávamos a mais. O problema não és tu, sou eu.
Terra firme, orientamos um bungalow, com paredes de papel, chão em tabuas de madeira com folgas de centímetros, porta com aloquete mais resistente que a dobradiça e uma varanda que dava para duas pessoas. Alias, todo o palacete dava para duas pessoas com pouco peso. Ou apenas um Hermano José. Mais que isso dava tragédia. Não era preciso nem tsunami nem lobo mau para deitar a Cubata a baixo.
Seis euros por noite com vista de postal. So faltava o Jamiro e o carvan para a barbecua.
Decidimos ficar o resto da semana e deixar os ferrys e camionetes em standby. Já tinham sido mais que suficientes, era hora de descansar. E dar umas pedradas no saco, comer pizza e fazer chop chop.
Podia até pedir as baleias do Roberto Carlos, mas esta é do José.

José Cid - Cabana





segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ser o macaco do zoo

I sorry my friend but I cant pick you! My mother is sick and i went to hospital.
Who's this?
I sorry my friend.
What the fuck are you talking about? Are you the pickup for the bus? Bus to bangkok at 6:00am?
I sorry my friend, no english.
No english um, e no english o outro que me tinha entregue o nokia - 3310 - para falar com o morcao que tinha a mae doente no hospital e por motivos não podia vir buscar alguém ao hostel. Só quando começamos a parle com gestos e caras feias, é que o morcao da cereja que tinha parado o tuctuc à hora em que supostamente íamos ser rebocados para mais uma infernal odisséia, disse angkor wat em vez de Bangkok. Afinal ia buscar mais um turista para ver o nascer do dia em Angkor. Não resolvia o meu problema de falta de transporte, só resolveu o hipotético de não ter mesmo transporte porque a mãe do outro estava no hospital. Sorry. No english.
Assim terminou a aventura de Anita na floresta. So fui como assistente de produção. Rebobinando, de Saigon ficou uma curta passagem, fast pace, pautada pelo engano da recepcionista do hostel, quando nos informou que tínhamos ligações para Siem reap a pontapé, hora sim hora sim. Como a grande parte da informação aqui adquirida, e como diria Joao Pedro Pais, era mentiraaa. Empurramos as roupas para a mochila, aguentamos com o banho da noite anterior e engolimos uma omelete com pão seco a custo de picanha do Brasil. Pagamos sempre a ocasiao, seja aqui ou em santa comba dao. 9:00 e entravamos e mais um expresso, sem pinga de turista. Havia de correr bem, mas so apetecia mandar tudo para corner, como diria Clemente com insatisfação. Pelo meio paramos em phnom penh, recarregamos a bateria do tlm para a candy crush saga e trocamos os Dongs que tinham sobrado por Riems.
Esta foi a lost estrada nacional de Lynch cambodiano, esburacado como a ciciolina, perfurado como uma esponja, derretida como trang bang - fizemos a highway 1 de Saigon até à fronteira, revisitando o local do bombardeamento de napalm, que acidentalmente criou a imagem de uma guerra sem norte nem sul, the girl in the picture-, noite fora, noves fora também, dor de cabeça e fome de bola e esticar pernas e costas, com a coluna a torcer sempre que havia mais um salto sem para-que das. Arrivamos tarde e com um apagão generalizado em Siem Reap, num episodio de The walking dead, sem cowboy, só ladyboyz e meninas da rua, de braço esticado e perna arqueada, olhos vidrados num oito. Nossa, que bio-lência.
Partimos cedo para Angkor, para nos perdermos num complexo gigante de ruínas que se imaginam transcendentes para época, ao ainda o serem, hoje, tão megalomanas. Dá para ter uma ideia, de nós, e do que temos feito. A pedra emparelhada é tao antiga que as árvores pisam e galgam muros e palácios com a força e aspecto de dinossauros e anacondas, serpenteando numa fábula que apenas quem testemunha in situ, consegue perspectivar. Não é o Mosteiro de Paço de Sousa, nem sequer próximo do Convento de Tomar. Até comparando com o panorama Europeu, é difícil encontrar um aglomerado de construcoes maioritariamente feligiosas, que se estendam no territorio com uma escala identica. Em quase oito horas, olhamos - sem visitar com cuidado - para cinco templos. Era muita fruta para a Carriagem que já ia cheia, de cansaço, fotografias e working tourism. Mas o mais importante e notório era o sentimento de impotência perante a natureza e a sua ocupação, pé ante pé, de tudo aquilo que se havia intrometido no seu âmago. Se a pedra fora assente, e de algum modo quem a assentou desapareceu daquele lugar, como sociedade vigente de notório poder e influência, uma nova camada superou a anterior, como a barba que é cortada com a cadência matinal da que cresce enquanto dormimos. A visão do apocalipse, coisa do capeta; a potencia insuperável dos irrepetiveis passos dados em falso, quê terminaram com um vazio, agora perene, no qual, para coincidência e ironia das ironias, somos nós outra vez, a vermos o museu da auto destruição, capitulo no qual conseguimos ser exímios trapezistas de circo. Espectadores da extinção. Sentarmo-nos em Angkor, algures no meio do arvores e muros e ruínas infinitos, a olhar as pessoa a passar, paulatinamente fotografando r apontando com o dedo, é como mirar a jaula dos macacos, ou ser como macacos dentro do zoo, num espelho em mirror ate ao fim, em repetição, chamem-lhe cue, loop, disco riscado, o que quiserem.
Era incrivelmente belo, assustadoramente solitário, na razão entre o envelhecer e o desaparecer, nesse equilíbrio, delicado e finito.

Both Worlds - hate mantra




segunda-feira, 2 de junho de 2014

Faquirs do asfalto


Como diria Dr.Pedro Cardoso Ribeiro, ca Vietname que para aqui vai. Duas horas de espera por uma camionete que já trás no pack outras vinte e quatro até Saigon. Fomos para a cozinha, pedimos um canivete emprestado ao individuo quase albino que partilhava o beliche com a malta e lancamos mao a obra. Era o cavaleiro da Dinamarca. Basicamente tínhamos comprado fruta, e não, não a podíamos ter descascado lá fora na tranquilidade, ou e dificil ou nao vale o esforco. Deu a fome de manga já dentro da carripana, tipo miúdos com sono que não sabem o que querem. Dotes de faquiri e a borboleta até cantou a laminar manga enquanto subiamos aos trinta centímetros de cada vêz que lomba sim lomba sim, ditava a estrada perdida. Assim arrancava a especial Hoi An Saigon, desta vez com Armindo Araújo ao volante - temos tido a felicidade de encontrar ases do volante, aos molhos e ao molho-, a derreter a embraiagem, pneus, chassis e o que mais viesse, na tentativa de ganhar metros aos restantes veículos. Nem pregava olho com a noção de velocidade e descontrole, e quando pregava, so via as ribanceiras e as grelhas dos camions em sentido contrario. Ah Piloto. No dia anterior e sem que nada o fizesse prever, alem de coleccionarmos mais uma personagem digna de figurar no capitulo do Tamzid e Raymond, acabamos por ter um dos dias mais preenchidos so far. Percurso Top Gear entre Hue e Hoi An, de Motinha - plug and play, scooter maria maria I like it loud -, gás colado, paisagens de arrepiar e sentimento de libertação total. O Uy, além de grande guia, foi grande anfitrião. Começamos a emborcar pouco depois da partida, num tasquito de beira da estrada. Noodles e salsicha, sumo de cana de açúcar. Parecia que não comia há eras. E a sede era sempre mais que muita. Seguimos pelas lagoas e montanhas até as quedas de água. Por uma estrada estreitinha, e pensava eu que ia ser algo bastante privado, sem que nenhum sinal expectavel da futura troca de Bacalhaus e abraços. So faltou o discurso e a música dos vangellis a tocar no altifalante. Gente e mais gente, num acampamento que se ia espalhando encosta acima, ocupando-se das represas e das aguas em redor. Ate o grupo de artistas de variedades que entretinham a malta, quando deram pelas aves raras, começaram a destrocar os cantares à desgarrada e as cervejas, abracos, fotos, lombo e vitela, costelinha, franca espanha tudo, vieram ao nosso encontro. Em troca, so tivemos de dar o nome e o Pais. Calisto diziam eles! Cristiano diziam outros. As asual.
Foi dificil largar o spot, era bom demais. Cama a marinheiro e calorosa recepcao. Mas era tempo de zarpar para mais asfalto e percurso de montanha. O casal de ingleses ja sabia para o que ia, mas nos, no acidental acaso, nao faziamos ideia da brutalidade que nos esperava. O Top Gear ja tinha feito um especial Vietname por estas estradas fora, e um dos hotspots era a ligacao entre Hue e Hoi an. De partir a pila ao cavalo.
Eram as vistas, as varias praias, as aldeias de pescadores, e os tasquinhos. Paramos para tachar no Ramirinho de Pieres la do sitio, apinhado de gente e sem turistas, cena local, com mariscada e muito caril e chilli. Mais uma overdose, comida como mato, mais sumo de limao e mais comida. Sempre a levar com o ventinho na tromba, ate nos esquecemos do escaldao que ia nascendo nas pernas e bracos. Estava tudo incluido no que preco acordado. Once more.
Este Pais tem destas coisas incriveis, lugares de tirar a respiracao, completamente esquecidos do mundo, sem placards turisticos, sem menus em ingles, sem nocao mesmo. Uma vida pacata, ligada a agro pecuaria, a pesca, a tudo aquilo que na Europa foi esquecido e trocado pelo hipermercado, pela hiperfabrica, pela hiperrapidez, pela hipercomunidade europeia, pelos hiperfundos, pelos hiperapoios e hipermerdas. Que se foda a nossa sorte, a higiene e seguranca no trabalho, os subsidios, os seguros, a perspectiva de vida. Por ca tudo esta ao contrario, e ninguem parece importar-se muito com tal coisa.
Podia tentar espremer mais as palavras para transmitir o transcendente da coisa, mas nao esta facil. Lembrou-me a estrada entre Porto e Entre-os-rios, com os separadores velhinhos caiados de branco e vermelho, so asfalto, mato e rio. A meio do caminho passamos pela nossa camionete da Camelo Viagens, a que supostamente perdemos no dia anterior e voltamos a perder, desta vez propositadamente, para fazer este troco com a calma necessaria para levarmos mais vietname para casa.
Chegamos a Hoi An com as lanternas acesas, na vila tudo parecia de uma escala de aldeia, sem grande compromisso com o turismo, com tudo mais intenso que noutros lugares que tinhamos visitado, mas sem estragar o ambiente altamente pituresco da ria, da ponte e das casinhas de pescadores, com o centro imaculado como em qualquer cidade da Europa que esteja habituada a receber gentes la de fora. 
Voltamos as horas infindaveis de sleeperbus, sendo a mota ja uma miragem no horizonte, e as series e filmes chineses com traducoes terriveis em vietnamita, bombadas com decibeis a mais para quem quer dormir, mais o motor e as reducoes rompantes do piloto, a soarem como sorround impossivel para poder ouvir as cantigas que trouxemos para a viagem. 'E um constante all in, do ou comes ou deixas na borda do prato, com a diferenca que nao tens muito por onde escolher, ou comes, ou comes com duas chapadas e nem piu.
Chegados a Saigon, nem napalm consegue tirar as comichoes e matar o acaro que vive em campos de refugiados espalhados pelas canelas e costas depois de tanta paisagem vista janela fora em lugares que vao transformando ao longo dos kms, de albergue a 2001 odisseia no espaco. 
E apesar de tudo ser idilico ate ao ponto em que doi - nunca sabemos ate onde aguentamos o passaporte no bolso ou a comida nao fura a parede gastrica-, e'  sempre bom manter a cautela com becos que se transformam em fornalhas a ceu aberto, sedentas de carne ocidental, mais tenra, menos acostumada, supafresh e com cartoes e carteiras prontas a debitarem dolla dolla.
Viagens assim dao trabalho, mas so o suficiente para podermos ver o que vemos e sentir tanta coisa que se torna impossivel guardar tudo bem guardadinho no sotao dos recuerdos. 
D'a vontade de carregar no pause ou no stop , voltar para a vida rotineira e real de Penafiel, e quando estivermos novamente cansados da repeticao - como levar a sandes para o estadio, bem guardada no bolso do casaco, e ir comendo ao poucos para nao matar a fome toda da mesma vez- voltar a carregar play e respirar mais um bocado de ar puro e mistura enquanto se mastigam os mesmos noodles de ha quinze dias para c'a.




Cold World - Copernicus












sábado, 31 de maio de 2014

Apocamelo Now

Acordei sobressaltado. Estavamos parados entre duas casas, quase em cima de um quintal. Seria Hue? Nao, era so a paragem do costume para gastar uns trocos em cafe, bolachas e bananas. Oito da manha, tinhamos dormido bem no sleeper sem nada a apontar; bruta energia para o desgaste ate' Hoi An e Ho Chi Minh.
Pedimos um cafe, uma omelete, umas bananas e a garrafa de 'agua que tem lugar cativo a cada mesa por onde nos sentamos. Ainda estava a abrir os olhos quando me comecei a aperceber que estavamos na DMZ, zona centro do Vietname onde outrora se dividiu o Pais em Norte e Sul. Num periodo que antecedeu a Guerra do Vietname, fruto das negociacoes entre China, Ho chi Minh e Franca, originando dois Paises com respectivas capitais em Hanoi e Saigon. Tudo isto e muito mais na wikipedia e na enciclopedia la de casa. Basicamente, Platoon, Apocalipse now e Full metal jacket 'a distancia de 20$, com almoco incluido e transporte para Hue, onde supostamente iriamos apanhar a ligacao de Hoi An as 13h. Hesitei bastante, a Ana disse que alinhava e eu queria matar o bicho antes que fosse embora e nao visse tunel nenhum a nao ser o de 'aguas santas. Soava tao tao a esturro, a cena do cota que tinha uma van para nos e que nao so ligava para a Camel Travel como tambem sabia as horas a que a camionete partia . Mas ya, estamos sempre na rotacao maxima na tentativa de nao ir para casa com a sensacao que ficou tudo para ver e que foi so vir passear a peida a oriente, de modos que, siga a marinha, bota nessa. Seguiram todos viagem, estupefactos com os dois morcoes que estavam a abandonar o barco antes de bom porto, retirando as mochilas da camionete e a seguir viagem para norte, no sentido oposto ao que a caravana tomava. Mesmo cena a la tuga, venha venha venha ver a merda que fez. Ta tudo a marchar para um lado mas vamos no oposto que la e que vai ser bom.
O mestre tinha referencias porreiras no caderninho, coisa que funciona muito por estes lados quando te perguntam de onde vens e te mostram prontamente uma review de um artista da tua zona, se nao tiverem de Portugal vem de Italia ou Alemanha. Afinal de contas, para nos oVietname tambem fica para os lados da malasia e da china e da coreia e da indonesia. Works both ways.
Comecou fraco mas a coisa la aqueceu, seguindo os passos da ocupacao americana, vimos a ponte pintada de duas cores - 17th parallel bridge- uma para cada lado da barricada, tiramos as fotos da cena a' frente dos monumentos - big as fuck como todos e quaisquer monumentos de propaganda socialista -, e seguimos para o prato principal. Os tuneis de Vinh Moc.
Ele era call of duty, era medal of honor, era tudo. M16 ak47 counter strikes e lanca rockets como diria o meu irmao. Tudo para dentro do caldo, e voila' , sentimento de estarmos mais uma vez a viver o filme que realizavamos, estilo Francis Ford.
Os tuneis sao impressionantes. Arte e engenho ao expoente maximo, descemos ate aos 15m de profundidade, onde outrora mais de noventa familias viveram enquanto as bombas iam caindo a' superficie. Maternidade, quartos, sala de reunioes e uma zona ainda mais profunda anti bomba perfurante. Top quilhones. Ate aqui, tudo certo. Ate ja comecava a acreditar que estava tudo controlado. Deu tempo para dar uma volta pelas praias,descer a costa ate ao tascoso e almocarmos a' pressao para poder sair a tempo de apanhar a camionete para Hoi An. Right. 'E nesta parte que nos ferramos, big time. Hurry hurry, mini van mini van! Go my friend go my friend! E, sem ter muito tempo para pensar, atiramos com os sacos para a carrinha. Estavamos apinhados como roupa na maquina de lavar, entre peixe seco, sapatos para revenda, e mercadorias que iam para Hue. Isso mais a gente que seguia conosco, ao meio dia, com bus as 13h, estava num calor do caralho, suor a rolar em bica, pouco espaco e a carrinha parecia que ainda vinha da guerra - montada com partes de um aviao americano despenhado em rockpile. Era uma Hiace como muitas que ja vi, mas esta ja ia a rodar mais do milhao de kms, e o piloto levava uns rayban da moda, com quem conseguia comunicar quando metia a cabeca de fora e com alguma mimica esperava que ele olhasse pelo retrovisor. Ainda voltamos para tr'as para apanhar uns quilos de batatas e cebolas e que se fodam os estrangeiros que vao no banco la' de tras e que por muito que digam hello my friend, hurry hurry, 'e mesmo um "pa que vos pariu" inde brincar para a vossa terra. A minivan que o artista nos tinha orientado, nao era mais do que uma especie de autocarro / carrinha que aqui faz o percurso da aldeia ate a' cidade e vai carregando gentes e pertences para la' serem entregues. Arrivamos duas horas depois, no outro lado de Hue, mochilas as costas, sem ligacao para Hoi An e sem spot para a dormida. Pior que isso, sem comprovativo de que tinhamos viajado na Viagens Camelo. Depois de gesticular, bater punho e dar o cartao da agencia de viagens de Hanoi, la tivemos direito a bilhetes para o dia seguinte. Sem paciencia, e com a nocao do dia perdido num calendario ja de si apertado que nem o nosso olhinho do cu quando nos demos como perdidos depois de deixar os turistas continuarem na viagem onde supostamente iamos bem, so me lembrava que a caminha e' cada qual que a vai fazendo, e nos tinhamo-la feita assim mesmo. Sem lencol nem fronha, porque esta calor e a gente gosta de dormir ao relento. Porta seguinte, albergue por 8$. Tratamos de lavar roupa e tratar de bizz. A viagem nao acabava ali, e la porque ninguem para em Hue, nao quer dizer que Hue espremidinho nao tenha sumo. Mas a moral da tropa estava baixa. Eu bem disse que curtia o Apocalipse e o platoon. Era preciso algum vedume de vinganca e fodilhice para ser vietname.
Enquanto uma hora antes deambulavamos pela cidade velha na minivan, reparei num spot com bom aspecto, num lago cheio de nenufares. A esplanada do Calvario la do sitio. Quando voltamos para a cidade, a pe', num fartote de metros, tentamos dar com o sitio. E demos! Oasis com menus so' em vietnamita; a pinta do menino. Cerveja local e gente local no meio do lago dos patos. Luxo. Afinal ainda mexia, ja tinha levado biqueirada na tromba mas a viagem ainda mexia. Um relax, duas de mimica para beber e para pagar e guiamo-nos para a beira da cidade proibida para poder desenhar um pouco. Havia de se arranjar ocupacao para o tempo. Encontramos um sitio que parecia antigo o suficiente para ter boa comida, o rapaz - chamado Uy-, veio prontamente receber-nos e o frango do menu parecia estar a chamar por nos. Estavamos no low cost: depois de 20$ para uma meia visita, mais algum para a dormida, equivalia a dividir a coxinha. A nalguinha, massacrada ou nao, cada qual ficou com a sua.
Estendi o caderno, duas fresquinhas e venha o frango. Uy senta-se e fala-nos de fazer Hue  para Hoi An de mota. Nem olhei nem falei. Ja tinha sido comido duas vezes num dia, tres vezes ja era ir ser mais Camelo que o Goda. A Ana ficou toda feliz com a perspectiva de irmos de mota, de perdermos o bilhete que ja estava pago, e de rebentarmos mais 35$ na viage. A verdade 'e que esse ;e o nosso budget por dia, se tivesse tudo incluido, era um bom plano - como todos os outros que ja deram teia.Ta tutti. Depois o Uy comecou a mostrar comentarios e apanhamos um gajo de Paredes - qual e a probabilidade - Jose Rocha, a dizer maravilhas da coisa. E mais uns tantos mundos e fundos pelo tripadvisor. Damn, ser'a que finalmente tinhamos dado com alguem em algures, que ia meter a coisa a rolar sem incidentes? E foi realmente coincidencia termos ficado em Hue por acaso dos acasos, nao, melhor, por camelice das camelices, nao dos outros, mas nossa, por ainda acreditarmos em tudo o que nos dizem a' primeira. E' mais vontade de acreditar que crenca, mas tudo bem, se por ai fosse, muita gente nao ia a' missa ao domingo nem levava o menino a' escola.
Viemos de mota ate Hoi An e contra todas as probabilidades, esta deu mesmo certo, sem truques, so gozo e muita hospitalidade. Foi no olho do cu, mas do touro. Bull's fucking eye. 50 pontos nas setas. bola preta a' tabela e com o buraco apontado.

The Doors - The End









quinta-feira, 29 de maio de 2014

Napalm na rua sésamo

Passaram quatro anos, mas lembro-me bem da noite em que estávamos a chegar a phokara. A Inês estava acordada e saiu-me qualquer coisa do gênero: um dia havemos de ir ao Vietname. Há dias foi assim mesmo, carimbamos o passaporte e pisanos a terra dos mil dragões, das mil motas, dos milhões de springrolls, litrosas de napalm e sete bolas de cristal.
Nightbus para Hoi An. Mais uma maratona para as Rosas Motas que querem fazer tudo num mea. Quanto mais vamos falando com mochileiros, mais nos apercebemos da gigante quantidade de pessoas a viajar sozinhas durante largas temporadas. Um mea já foi obra, tirar meio ano é cortar cordão umbilical.
O bus esta sereno, muita lomba, mas apesar de tudo este tem wi fi - só fora da hora ponta, quando tudo dorme dá dois pauzinhos de rede - e tem WC que fica aqui mesmo atrás. De quando em vez da direito a fragancia sem aloe vera. Esta perfeito. Das dezenas entre índia Nepal Tailândia e Vietname, este ganha o globo de ouro. Tanto e que ate o Jorge palma tocou uma cantiga ali a frente ao Lado do motorista: ligamos o microfone que faz sempre fiobeque nas visitas de estudo da escola e o jorge lá tocou a encosta-te a mim, mais bêbado que um penedo. Aqui o meu amigo vietnamita do lado, que ressona a patrao, tombou logo em combate com a musicalia.
Hanói, nais uma cidade de Calvino, dentro do alfabeto das cidades asiáticas, num sem fim de soluções - algumas bastante praticas e pragmaticas- entre becos e layers e fachadas sobrepostas entre si, em desequilibrada relação com a rede se alta tensão e telecom, adornada por arvores de flor lilaz e vermelha. A tinta descascada ou desbotada ainda lhe da mais caracter, e as motas rolam sozinhas sem condutor. De noite ha trezentas luzinhas para cada uma das trezentas pequenas barraquinhas que habitam nas ruas, das floristas às lojas de papagaios de papel, entre AA de fogo de artifício aos items maia exóticos da gastronomia do Vietname. E quando deixa de haver espaco, Há estreitoa corredores originam patios, como bolsas de ar debaixo de agua, ou os negativos de um formigueiro. São formigueiros, estas cidades. Numa hierarquia incompreensível ao olho nu, numa azáfama maniaco compulsiva, num tilintar de repetição não singular. São números do matrix, cálculos e contas entre parcelas e pessoas, bens carregados e personagens que sendo figurantes, contribuem para que a cidade funcione, anomalia aqui e anomalia ali, mas em consonância com o bater do coração do velho quarteirão.
Chegamos ao hostel em hora de ponta. Era happy hour disse o mestre da recepção. Cerveja grátis das 7meia as 8meia. Parecia erasmus outra ve.z. a mesma cerveja choca, a malta a martelar no inglês, bar Fatela, paredes riscadas, e gente aos molhos, se todos os gostos e feitios. Melhor recepção de sempre. Estivemos o tempo todo a ver quando vinha o repórter de imagem e o apresentador irreal para os apanhados. Não ha assim tanto turista quando nos perdemos pelas ruas, ha bem menos que na Tailândia. Aqui há mais freak e obstinado, cena de promessa e tira teima exótica. A Ana foi protagonista de algumas fotos com miúdas da primaria e ensino básico. Também fomos apanhados em muitas câmeras de telemóvel, de forma mais ou menos descarada. Senti-me o Kevin Costner aqui do sitio, sempre com pé ligeiro e cautela, não fosse a Whitney ser abalrroada por uma mota ou por um motorola. A Ana ainda comprou um chapéu daqueles à filme do van damme , para ser ainda mais discreta. Eu comprei uns calções à tropa, para parecer ainda mais yankee. Não há nada como jogar com a probabilidade, sempre a escacar pedra. É jogar na raspadinha, ganhar um euro, e apostar outra vez para ganhar mais.
Fomos a HaLong Bay, num barquinho que acahavamos ter sido bem regateado - como já é costume, somos comidos de cebola da - e aproveitamos, juntamente com muitos outros barcos, a vista na baía. Ainda não tenho capacidade para descrever. É maia uma daquelas à filme. Ate acho que se fazem viagens destas para podermos entrar em filmes, como actor secundário, principal, figurante ou figurino, pouco interessa. É tao pesado e denso que demoramos a atingir. É como atirar a moeda para dentro da maquina de flippera e está demorar uma fracção de segundo a mais, para bater na caixa de latão onde estão as outras moedas. Tenho método muita moedinha para jogar SNES e do cansaço já faltam as palavras e adjetivos para a descrição. O disco rígido começa a ficar cheio. Comer no barquinho, beber no convés com o resto da malta, enquanto as montanhas pareciam cada mais icebergs à medida que o gelo derretia na superfície da garrafa. Chegamos à conclusão que as duvidas e questões que temos enquanto miúdos e pré adultos em Portugal, são bastante idênticas às dos outros, lá na terra deles. Good to know.
Hoje tivemos um pick up para vir apanhar o bus surreal. Primeiro seguimos um gajo de scooter, que diz trabalhar para a empresa de expressos. Chegamos à rua principal depois de cem metros, e aparece uma carrinha completamente cheia para noa carregar. Carregar é a palavra.Lá nos encaixam à LEGO no meio das pernas e dos bracos dos outros, e andamos mais três ou quatro minutos ate nos deixarem meia hora numa avenida, sem qualquer camionete. Cheirava a scam. Já depois de estarmos à conversa com duas canadianas, volta a mesma carrinha do inicio e volta a carregar os torpedos todos para irmos para a água. Ta foder xerife, uma hora depois, voltamos ao ponto se partida e já a camionete estava cheia. Foi o seus ma livre. Ainda apanhei este fantástico lugar ao lado da sanita. Houve a quem falhasse mesmo Cocó, tipo corredor, ou ir lá na frente sentado, tipo prof, a orientar o motorista. É que ele pode não saber do caminho, e assim é da maneira que não ha enganos.
Cada dia é como cada qual, há sempre mais um episódio que não nos deixa dormir enquanto não esta os suficientemente fartos de sermos surpreendidos.
A surpresa vem sempre no pacote, seja no mais caro, ou no mais lowcost.
Não encontrei o songuku nem porra nenhuma de bola de cristal, apenas mais um pouco de paz.


Jose Gonzalez - how low


P.s. depois de escrever fui jogar a um jogo fixe chamado mudar as aguas num autocarro em andamento. Mote: ir descalço r numa estrada bombardeada por americanos ha algumas décadas. O objectivo principal é não molhar os pés e canelas. Secundário, acertar na sanita. Se der, bem bem, é apontar mesmo no buraco.



mogli nas fisgas do ermelo


Mogli nas fisgas do ermelo

Luang Prabang revelou-se igual ao primeiro impacto à chegada, pródiga em descobertas de templos, pequenos jardins, e encontros algo mágicos. Um desses momentos surgiu ao descescermos por uma viela bastante estreita e inclinada. daquelas da piada do oh mae tenho a cabeca grande. A meio da descida, apercebemo-nos da existência de umas escadas para um templo. Ao estacionar a bicla, um monge veio ajudar o difícil parqueamento, coisa que ate então, julgavamos impossível, pois a postura de retiro - ainda que frequentemente curiosa -que assumem não permite grande conversas ou interaccoes. Decidi desenhar, para variar um bocado e dar uso ao kg de folhas que carrego às costas. Fixos ali durante uma relaxada meia hora, a irrequieta Ana decide subir às arvores para a apanha das mangas. Alias, ela ate achava que eles não as comiam e que era uma pena estragar. Enquanto andava ela à cuca de fruta, topei o monge a aproximar-se. Ana, em vez de comermos mangas vamos comer comida de urso. Arret Michelle que tu vá tombe. Numa postura tranquila, o monge aproxima-se de nós com mangas maduras para grande banquete, com o à vontade de quem contacta com o exterior. Perguntou de onde vinham os e o que fazíamos ali, e tentou explicar o nome do sítio e escreve-lo no caderno. Trouxe-me à memoria o golden temple e Amritsar. Volvido um dia sobre a chegada, era hora de ir ao spot onde se fotografam os postais. As cataratas. Tínhamos ideia de algo incrível, mas que com alguma facilidade poderia estar a abarrotar de turista. Época baixa para nós, balnear para eles. Encontramos malta do hoatel que ia encher um tuctuc, fizEmo-nos convidados e bota que chuta.
Carripana cheia - reunido um grupo de turistas com gentes da Dinamarca, Alemanha, Holanda e dos "States"- iniciou-se a viagem pelas montanhas de Laos, ate as kung si Water falls. Ate parecia a senhora da saúde em Bustelo, farnelzinho para encher o deposito tuga style: batatinha frita, coxinha de frango e cervejinha. Um espetáculo digo eu, enquanto os outros comiam shakeshake de oreo e outras cenas menos drogas de figurarem num farnel. Se faltou o presunto o queijo o salpicão e o rojaozinho? Claro que sim, mas é como diz o outro:em tempo de guerra todo buraco é trincheira.
Aptos para o banhinho, seguimos em fila indiana, afável e cordial, bosque fora. Espalhadas pelas mesas, varias familias iam aviando as panelas de comida para depois as levarem mais leves embora. Uma dessas, fez questão de nos oferecer uma Beer Lao. Incrível. Veio mesmo a calhar, o convívio e a bejeca pra viaje. Acelaramos o passo para voltar.os a encontrar o resto do grupo. Deparamo-nos com os primeiros níveis de agua. As primeiras represas. era mesmo cena à filme, agua azul azul azul, bastante gente é certo, mas para quem já bate palmas quando orienta spot junto ao rio Tabuão, isto era melhor que um o bife à Cedro.
O Robin "dos bosques", holandês que me lembrou jrlmer Simon e companhia, sabia de uma cascata secreta, fechada ao publico. Ele tava a fazer de Leonardo si caprio para as Babes, num constante prove the game prove the passe e esta sua cartada revelou-se genial. Trepamos monte acima ate chegar a um carreirinho com interdição e barreira. Como estávamos em espirito de grupo, fomos todos. Quando lá chegamos, até os tomates rolaram encosta a baixo. Uns oitenta m2 de represa com queda de agua, só para nós, a um nivel alto, com vista para as montanhas, mesmo king of the jungle. Tipo piscina sem caleira finlandesa, que a malta gosta e vê naa casas modernas, só a ver a agua sem beirinha. Um banho, dois banhos, três banhos e a caravana volta a partir encosta acima. Afinal havia outra. Selva e mais selva, já nem sei se era do mogli ou do rei leão ou do Tarzan. Era apenas o imaginário de tanta imagem de banda desenhada, filme de animação e do King Kong. Era selva com agua tao azul como equipamento secundário do Porto. Dá para ter uma ideia.
E quando já tinha o queixo todo quilhado por andar com ele tanto tempo a raspar no chão, tive a estucada final no ultimo patamar da cascata. Já fostes. Esta sim, era tipo spa hotel mas natural, com uma vista del mangalhon e com spot para mergulho. Nem tava muito nessa, tinha pedido à miúda chilena que vinha conosco para tirar uma foto. A ideia era tirar a foto já na água, mas ela como percebeu mal e viu que eu estava a demorar a descer, perguntou se eu ia saltar hoje, ou amanhã. Eu so queria descer, o salto nao estava no pacote. Mas já não havia chance como o fossas bem teria dito. A Ana ate estava a ver lá de baixo e a achar aquilo muito esquesito: capitão Sousa a querer mostrar dote de salto em altura e comprimento. Mais uma razão para, em meia bola e força, dentes serrados e olhos esbugalhados, saltar para o vazio. Era mais alto do que a prancha das piscinas de Penafiel. Não era assim tao alto tambem, era so o receio aos penedos.
Como diz o Cross, deu mas não ia dando.
Voltamos cansados da agua, como era natural quando regressavamos na camionete da escola das 3as feiras de piscina. Bem moídos e calminhos. Modo zen portanto.
No dia seguinte fomos andar de elefante pois a Ana tinha essa na bucket list e o que tem de ser tem muita força. A Ana fez de Subhro e eu de marajá, enquanto já contava horas e afazeres para o vôo de Hanói.

65daysofstatic - mountainhead

terça-feira, 27 de maio de 2014

Em Atlantida

Voo tigerair, dois ressacas na fila da frente. Pedimos lugares perto dos lavabos, estava tudo demasiado colado com cola da safel, delicadamente equilibrados pela turbulencia e calibre do piloto. Nao valia a pena arriscar borrar as calcas cor de caqui do canadiano sentado no lado do corredor. Melhor assim.
Aterramos em Chiang Mai para umas horas de "pure thai". Taxi para hostel freakshow. Estou-me bastante nas tintas para a qualidade do lugar, da recepcao, do p'atio, do jardim, alias, ate' sou dos que toleram um mau pequeno almoco. A unica cena que nao 'e toleravel 'e a falta de esforco por parte de quem te recebe, quando pagas para que te receba, e te faz o jeito de orientar um par de chaves para entrares num quarto com paredes de papel e restos de mdf. Mas tranquilo, ate isso ia bem no roteiro, sa foda a fronha da menina - cara de cu em portugues -, a ideia era dar um passeio pelo centro de planta quadrangular e comer com serenidade. Era so isso. 
Fomos divagando sobre o roteiro a seguir, se Luang prabang para o dia seguinte ou para depois, se iamos de barquinho ou de camionete, se pagavamos em dolares ou em thai bats. Perdemos uma boa parte da disponibilidade mental para a cidade, equacionando os pros e os contras de descer o Mekong ou apenas ir pelas montanhas numas bastante intimidat'orias 18h de banco pouco rebativel. Acabamos na segunda opcao, a mais economica e apesar de tudo mais rapida. A outra historia que nos iam contando tinha muitos defeitos, era so truques aquela merda: Ias de barco, uma lancha fodida que te levava de gazonete pelo rio abaixo e era o mais brutal de todos os mundos porque micavas Birmania, Laos e Tailandia e isso tudo, com dormidas e comes e bebes incluidos. E por sessenta dolares, cheap cheap cheap. O Pai ja' vai.
Alguns noodles e templos depois, lady boyz, nightmarket e feeling tropical de trinta e tal graus e humidade e chuva 'a noite, perdemo-nos numa planta que parecia basica. Bastou entrarmos num templo por quinze minutos para sairmos e encontrarmos a cidade deserta. Ninguem sabia, ninguem tinha visto, ninguem conhecia. E la fomos andando, procurando, ate encontrar o nosso pequeno maravilhoso hostel transformado em Cubata do Caribe.Chegamos l'a e a tenda ja' estava montada - parecia circo de trapezistas. Madona jack miagger bruce springstrung a bombar nos speakers, um/a especime XXL, uma outra ja' com cartao Inatel Gold, um mestre com a nossa idade, e outra india perdida. Tudo que nem lorde a assistir a um filme Sci-fi equanto rodavam uns quantos canhoes. De ar serio e olho no lance, nem deram por n'os. Duas boas noites depois - uma para entrar e sentar no jardim e outra para despedida - sem resposta, aterramos.
Luang Prabang. Ya, Luang Prabang. Fizemos dezoito horas de montanha russa, rafting em estrada, com mais um prodigo filho do Ogier dos montes, a abrir pela encosta a baixo, sempre a reduzir e a puxar serrote, xixi maluco. A Ana nao estava 'a cerca do que eram dezoito horas de um composito que misturava 30% de asfalto com 30% de poeira e 40% de coisa nenhuma. Era acreditar que o ar ia dar andamento 'as toneladas de carga que o paralelipipedo metalico levava. Eram dezoito horas, dezoito horas de dezoito horas que vemos no relogio, ou dezoito horas de saida do trabalho, ou as dezoito horas do jogo da bola ao sabado 'a tarde. Foram dois dias de trabalho, oito mais oito, no meio do turbilhao, sem fim, com os morcoes da frente a rebaterem o banco ate o joelho ficar atravessado de lado e veres a caspa do couro cabeludo do energumeo. Tranquilo, tambem viemos aqui para isso, compramos o pacote com direito a tudo, e rapamos o prato ate' ao fim. Sempre que acordava parecia que ainda havia mais uma curva, mais um salto da pedra sentada, mais uma especial de Fafe, que nao conta, mas que tem gente para caralho e ninguem e' de l'a, so'  veio ver a bola. 
Quando chegamos a Luang Prabang, o senhor simpatico do bus veio dar-nos um toalhete. Guardei-o na mochila para situacoes em que fosse realmente preciso limpar as maos, os sovacos, as canelas, a testa. Estava na boa, tranquilinho da vida, ja nao havia bitcho que pegasse 'aquela hora, e se viesse, era mesmo do "tu deslarga-!". Era como botar nivea depois de vir da praia. Mas so depois de ir para a praia com oleo johnso e butadine.
Como andamos na onda survival of the fittest, nao marcamos noite no hostel na tentativa de poupar alguns dolares, e como tal, so tinhamos direito a ir la dizer ola' 'as 6 da madrugada. Algumos umas biclas e fomos curtir para Luang Prabang, que nos deixou completamente acordados, como se de uma season finale se tratasse, ou da ultima sequela do teu filme favorito, ou o ultimo boss do Streets of Rage, ou o ultimo capitulo do livro das ferias ou da mesinha de cabeceira que comecamos ontem mais ja vamos acabar hoje, e que, tal e' a intensidade debitanda ao ser lido, nao da' vontade de parar. Luang Prabang 'e o paraiso que necessita do purgat'orio de dezoito horas. Purgatorio o caralho, foi mas 'e inferno, que depois de superado, se transformou numa das mais agradaveis surpresas. A expectativa foi amiga da circunstancia, e o facto de nao esperarmos rigorosamente nada a nao ser descanso, revelou-se gratificante ao ponto de escassearem as palavras para descrever tamanha descoberta. 'E como quem responde na sala antes do colega de carteira, ou insiste em adivinhar o final do filme ou a proxima deixa. Swinging like a boss.
No esquecimento da distancia.
Basicamente foi como encontrar Atlantida, onde so' esperavamos encontrar qualquer coisa que nem no's sabemos bem qual.

Nine Inch Nails - The Fragile

segunda-feira, 26 de maio de 2014

SINGARAY

Acabados de aterrar em Ha noi,   desmultiplicamos os dolares que pagamos pelo quarto na happy hour do hostel. Pagamos 5 dolla, bebemos 3 survias e est'a quase pago por esta hora.Trip down memory lane,  de volta a Singapure, e aos teclados martelados, tao martelados que saltam vogais e consoantes consoante vamos batendo nas teclas sujas e besuntas que o compoem. Acentuacao zero, cedilhas zero tambem, e mesmo um cinco a zero, carrega benfica.
Conhecemos o Ray em Madrid, num sitio improvavel, com a Familia Sousa em peso, Pais filhos e primos, num hostel bem perto do Rainha Sofia. Convidamo-lo pra vir a Maybeshewill - ainda no metro nos perguntou se ainda tocavam por ai - e juntamente com ele vieram outros dois argentinos fanaticos do River,  malta que chora com o clube, bem dentro da nossa onda vila gualdense ou se quiserem, Nodoa Negrense FC.
Palavras e memorias aparte, o Ray esteve em Singapura, desde o primero momento para nos receber. Alias, a ideia dele era aumentar a nossa massa gorda ( deve ser cena do oriente, enfardar amigos europeus), pelo que comecamos com bruto jantar num mercado  dos suburbios, cena com lagosta  - lacoste em ingles -, noodles, mais noodles, pausinhos e fritos e muita, mas muita comida. E da boa. Tinhamos dormido grande parte do dia e a barriga estava completamente vazia, j'a depois da reserva, e a bilis e as enzimas ja armavam revolucao  - I I I INVASAO! Alias, antes  de vir o tacho j'a batiamos com o talher no prato.
Seguimos viagem por Singapura ( estamos no vietname e esta' a passar aquela malha das segundas feiras dos The Cure),  suica - de queijo suico - do oriente, tudo 'a patrao, ruas extremamente limpas, pessoas  demasiado civilizadas, top of the game, cinco estrelas cem por cento. E o Ray, apesar do apertado horario e das muitissimas tarefas e afazeres que tinha para aviar,  seguiu viagem conosco pela sua cidade, sempre apto para nos por a comer mais e mais e mais. Chinatown, Marina Bay Sands, Financial Area, Biblioteca, Anfiteatro nacional; tudo a que um gajo tem direito. A p'e ou de MRT, Singapura revelou-se pequena com tamanho guia. A estadia era curta, como alias vai ser durante as proximas semanas em qualquer lado por onde passemos, mas Singapura durou mais que dois dias, multiplicamos as horas para que contassem mais, at'e porque iamos atrasando o relogio so para ter mais tempo - para andar, para ver, para conhecer, para comer.
Na derradeira noite de despedida seguimos para a Red Light District, zona norte da cidade, Arab area. Voltamos a encher o farnel com tipicas iguarias sem igual, que nos derreteram as paredes gastricas durante a noite que se seguiu e ate ao aeroporto. Voamos para Chiang Mai com a sensacao de termos ficado para tras. Pelo menos posso dizer que dei muito de mim aquela cidade.
Mas voltando aos comes e bebes, restaurante chines, patinhas de ra, perninhas de frango, clepes e mais clepes, molhos e molhos e sumos de limao com melao e com mel. Tudo para o mesmo blender. Foi naquela onda do " will it blend? that is the question!" Blendou bem, blendou, o coveiro ate foi atras dele. Vimos  as pastilhas de vitamina para a carne espalhadas pelo chao, as meninas a cantarem karaokes para senhores de alguma idade, massagens a barrigas disformes, garotas em fila, luzes e luzes e muita fruta, numa cidade multifacetada. Bebemos uma cerveja numa esplanada da movida, alimentada a carne para canhao, sempre mil, com uma drogaria mesmo ao lado onde estavam uma seria de botas de obra que me fizeram lembrar o cimento e os tijolos.
Singapura foi uma sopa de pedra: olhamos os arranha ce'us e vimos o tigre a espalhar agua, vimos a eficiencia asiatica no seu mais alto indice de eficiencia e delicadeza, e, pelas conversas com o Chua, compreendemos a velocidade e a pressao envolvida em tamanho fardo civilizacional - ha tempo para fazer, pouco tempo para lazer.
E pela segunda vez consecutiva, sem lonely planet, tripadvisor ou qualquer tipo de dica ou expectativa, vimos e revimos tudo, qual roteiro magico que so' alguem local nos consegue proporcionar. Mais uma vez tocados pela forma apaixonada e aplicada com que nos abrem portas bem longe da zona de conforto, sem deixar pagar as contas, sem sequer deixar agradecer e sem podermos pedir desculpa pelos atrasos de vida que possamos estar a causar.
Sai que e' sua Tafarel.

Singa Ros - Glosoli

domingo, 25 de maio de 2014

Vitinho e Lamy

A turkishairlines ofereceu-nos estadia RM Istambul. Noite em hotel 5* e meia duzia de horas para dar um salto à cidade. Ver as mesquitas, o grand bazaar e comer uns kebabs por 50 centos. Descansamos do avião com problemas electricos- uma hora e tal de atraso, o comandante com ar de quem não quer nada com isto e uma música de fundo a lembrar marcha fúnebre -, corremos para o epicentro de Istambul, fast fast fast. Galgamos os passeios com a pica de inicio de viagem e com sabor a borla, e como quando é grates parece tudo ainda mais melhor (tipo menu de sandes presunto mais bebida com oferta do café, que ate pode ser um carioca já de terceira geração e do lote mais chunga do tascoso que ainda assim marcha na mesma: é de mono), seguíamos sorridentes e sem noção de horas. Afinal de contas, férias são férias e às 5 íamos abandonar que tinhamos consulta.
Voltei a trazer a yashica e esperava que esta tivesse adquirido que ia jogar pelo Baltazar nas próximas semanas,  mas, azar dos aAres, a máquina tinha morrido aos primeiros disparos. Caso para dizer que fiquei pior que ela, íamos ter Kahn a seguir entre milhares de outras naturezas naturais e já estava a seguir sem mão num all in desenfreado. Faltava uma hora para as 15h, o pickup era as 16h, e ou arranjava um artista que a deixasse nova, ou comprava outra maquina, ou então deixava arder. Começamos corta mato pela feira fora, passamos o grand bazaar a pentelho fino e chegamos ao lado oriental. Sem mais pormenor, encontramos num centro comercial na onda do Dallas ou só Stop ou Cedofeita, ou ate do Brasília lá da terra mas só no aspecto interior, por fora tava pior que as fabricas de sardinhas de Matosinhos. Maquina pronta, preço regateado, alma cheia. Ta tutti. Siga pra bingo.
Zero taxis. Transito em hora de ponta. 20km ate aeroporto. Vôo para Dhaka. igual a dizer, Fodeu nosso time.
Desesperados a correr centro acima, enfio-me a frente de um taxi e explico a situação. Não calhou Cocó, calhou Ninja. O Pedro Lamy lá do sítio. O amigo do amigo que gosta de bulir na DT ou no fiat uno turbo e ou no SEAT Ibiza dos antigos. Paralelo atrás de paralelo ate parar no semáforo. Buzina, encosta ao da frente e pressiona o xerife para a linha de Tram. O trama vem, para, o carro da frente quer recuar mas o Ninja como é Ninja continua no pressing alto, domínio da posse de bola co. Boa circulação. O chefe de familia sai do carro e pede por favor para fazer marcha atrás. O meu amigo Ninja não facilita, ninja que é ninja vai logo na chanchada : insulto e pau. O outro ameaça ligar à policia e nós só queremos chegar ao pickup para o aeroporto. Ai entra Vitinho das arábias, retornado recém chegado, com toda a sua classe encarnado na minha pessoa : " keep calm ma friend, keep calm ma friend!". Ma friend! Bem, se era Ninja passou a super Sayan 4. Trouxe-me à memoria a noite em que meti o despertador as 3meia da manha para ver o Tiago Monteiro na primeira corrida pela Jordan - não é que seja seguidor da F1, era só pelo carro amarelo com o tubarão- e só co onsegui ver no quadro da classificativa. Foi do fume concerteza.Putz, ultrapassagem pela direita, braco de fora a mandar encostar e só faltava a sirene, o resto o Hassan tinha tudo, aparato de escolta policial à lá Mossad, sempre na vitesse máxima, a rasgar alcatrão. Sempre que o transito parava, mais businadelas, encostos de parachoques e palavroes aos demais condutores. Quando passavamos mais carros e dava bonus olhava para mim com ar de quem manda nesta merda toda. Toucha piloto!
Passamos o epicentro motorizado e seguimos pela via rápida. Ainda tentei mandar a dica do bruno Alves e do chuta Meireles mas ele não topava pivea de português, ficamos pelo cristia o Ronaldo e pelo fenerbache allez alleZ. Chegamos a horas, paguei as liras, o Ninja ficou genuinamente feliz por ter ajudado e eu genuinamente feliz por não termos sido desviados de rotas para carne para porcos. Por ter sido mais profissipnal que o Leone, levou um bacalhau com um euro no meio. Vai a uma casa de cambio e troca, ainda da para umas liras.


QOTSA - Go with the flow






sexta-feira, 23 de maio de 2014

THAKA!

Dhaka ficou para trás há quase uma semana. Uma semana que poderia bem significar um mês dos últimos quatro anos volvidos desde a experiência indiana. Nada mudou. Assim que saí do terminal, o faqueiro arreganhou, soltei uma pequena gargalhada, rejubilo instantâneo. Afinal de contas, não fora este o quadro que vinha a pintar faziam já tantos dias? Tínhamos pickup do albergue - quase hotel, porque em dhaka não ha hostel, turista é ave rara e todos vem por negócios. O tráfego era o mesmo, o cheiro, o aspecto de metrópole sem fim onde os homens são tantos quanto as formigas e os insectos e o ar saturado que se respira. Era tudo demasiado, em demasia, e totalmente idêntico aos kms que vivera na índia.
Ao chegarmos, vimos a assembleia nacional ao longe, arreganhei os dentes e disse um tcheii - tu Bates mal man, tu Bates mal man, tu Bates mal man. Era isto. Era mesmo isto.
O Tamzid, esperava-nos eram 7:30, tal como combinado. O Tamzid, o surpreendente Tamzid. Fomos a pé até sua casa, num bairro da zona sul da cidade, dhamondi. Mae e irmã, recebem-nos de forma solene, limonadas e cumprimentos, toques com a cabeca, olhares amáveis. Soou a casa, bem cá longe, soou a recepção tuga, aquele gênero do toma e come e bebe e come mais um bocado que estás a botar corpo e bebe mais um bocado porque lá não tens disto! And só on. Linguagem gestual. Todos felizes, barriga cheia, alma preenchida. Dhaka prometia maaaan.
A Ana acalmou um pouco, sorriso nervoso, era muita gente, muito caos, cheiros e ruídos, pressão de panela de pressão ideia casa ao seu dispor. So faltava a velhota a falar com voz anasalada. Mas tranquilo, no passa nada, nem um ai nem um ii, muito menos um raspanete pequenino pelo morcao do namorado que não a convida para Punta Cana vamos à lá playa.
Voltamos a misturar-nos na selva, cidade velha, labirintos do fauno, do italo Calvino e do minotauro também. Tudo a que tínhamos direito, padrada atrás da padrada, poeira chapa e fachadas a monte, creiziness. Podia parecer que tínhamos ido para a chopinaite e tudo andava a volta mas na verdade, estava tranquilo, tinha desviado a rota para isto mesmo, voltar a injectar tamanho ópio emocional, mesmo na jugular. E com os dentes bem cravados na cinta.
Almocamos na beauty boarding, lugar perdido num pátio com quartos a 5tks. Vimos o porto e o rio escuro. Rolamos pela cidade de CNG e rickshaw, sempre no meio do turbilhão, e nem um turista, nem uma cara pálida, só a da Ana, muito de vê em quando.
Estávamos de directa, mortos-vivos pelo calor e atmosfera, bastante vestidos e o Tamzid até me orientou um chapéu Justin Timberlake nsync que me ficou a matar. Chica, não estávamos à cerca do quão camuflados estávamos.
Voltamos para jantar em casa do sr Mogno, mais comida, deliciosa, ate deu vontade de soltar a lágrima, era demasiado, parecíamos parentes distantes que não se viam ha décadas, separados pelo karma e pelas voltas que as vidas dão. Tanto carinho que ainda não temos palavras.
O resto de Dhaka foi assim mesmo, conhecemos mais amigos, fizemos outros tantos, comemos tanto que nem sei como não viramos o barco ao largo do lago; andamos muito, vimos o Louis Kahn, que foi uma autêntica final da Champions league, momento único de orgasmo arquitetônico, com direito a garganta com nó, assim que nos aproximamos da entrada lateral, junto da mesquita, pelo túnel à Eduardo, como manda regra, como dita a proporção, e, acima de tudo, intrínseco ao lugar e à identidade de um País como o Bangladesh.
Foi um remate ao angulo, daqueles que fazíamos no jardim ou no ringue a jogar aos campeões, puta, até assuvia. Um culminar do tridente do oriente, chandigarh, ahmedabad, kathmandu e dhaka. Os Corbusiers e os Kahns. Riscados da bucket lista.

Tivemos direito a tudo em lugares de sofrimento e perda; nenhures para muitos, a totalidade para nós.

Our respect and deepest feelings for the Mogno family.










Sights and Sounds - Sorrows